A insatisfação sem conhecimento


Aproximam-se as eleições presidenciais em Portugal e presenciamos um fenómeno que não é estranho à História, pelas piores razões. Importa perceber a razão de pessoas minimamente esclarecidas serem arrastadas por discursos populistas.
Em primeiro lugar, estes fenómenos revelam-se onde existe um descontentamento político, crises económicas e instabilidade governamental. Para contrastar com o argumento e crítica popular – “são todos iguais” -, surge uma figura com a bandeira “anti-sistema”, a prometer uma mudança radical.
Em segundo lugar, esta figura, que se auto-intitula como líder, usa os meios de comunicação social para perseguir os seus objetivos. Com um discurso que se descola do discurso de todos os outros políticos, usa-se uma linguagem simples, para que todos a possam perceber, espalham-se notícias falsas, sendo a mentira uma das grandes armas, e diz-se muito alto e sem medo aquilo que é absurdo, tornando-o em algo tragável. Autenticidade, mesmo que isso signifique falta de ética e de educação. É isso que o povo descontente quer ouvir, gritos de ordem e ameaça ao sistema, diferenciação, novo rumo. Cada discurso, um espetáculo, uma agregação de massas, um hino conjunto e uma ovação ao líder, salvador da pátria, D. Sebastião há tanto esperado.
Em terceiro lugar, a promessa da restauração da antiga ordem, da criação de um país para portugueses de sangue azul. Repugnar tudo aquilo que quer ser diferente ou progressista. Ser fiel ao conservadorismo, conservando-o segundo normas estabelecidas. Mulheres em casa a cuidar dos filhos, de onde nunca deveriam ter saído, os homens, senhores de toda a força jamais se poderão sentir inseguros e, caso isso aconteça, permite-se o uso de armas para defesa e afirmação da sua masculinidade.
Em quarto lugar, o líder declara, expressamente, intolerância a pessoas de etnias, raças, credos ou opções sexuais diferentes da sua. Tudo o que é diferente à sua condução de vida é errado e deve ser eliminado. Ciganos, judeus, homossexuais, criminosos, imigrantes, entre outros. As pessoas reconhecem o radicalismo mas aplaudem o líder que tem a coragem de dizer aquilo que é politicamente incorreto. Ter um bode expiatório pode ser engraçado até porque isso só nos engrandece porque estamos do lado dos que apontam o dedo. «Fora ciganos, morte aos criminosos, cuspam nos gays, queimem os judeus, tirem os ovários às mulheres, não aceitem os imigrantes!».
Em quinto lugar, o apontar dos problemas que todos conhecemos, a promessa da resolução do crime com a pena de morte, segurança para os «portugueses de bem», culpabilização da crise económica aos esquerdistas por exercerem «essa coisa da democracia e da justiça social». Renascimento, reconstrução, afirmação. «Um povo, uma nação, um líder».
Em sexto lugar, a promessa de benefício aos grandes grupos económicos. Conhecem estratégia de apoio mais eficaz? Dinheiro é poder, independentemente do que esteja em causa.
Em sétimo lugar, a Lei da Rolha. Demissão, ameaças e censura a todos os que se oponham ao líder. Linguagem cada vez mais severa e agressiva. Violência.
Estes foram os passos dados por Hitler para chegar ao poder. Resultado: seis milhões de judeus exterminados, mais de 50 milhões de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial, miséria assombrosa, o período mais negro da história do mundo.
Tudo começou com o uso do sentido de oportunidade. Oportunismo por parte de um ex-militar sem cultura que poucos levavam a sério. Implementou o ódio com os seus discursos populistas contra os mais frágeis, aproveitou-se do clima de instabilidade social vivida e arrastou o povo alemão na sua maldade. É este o perigo da democracia, a má-fé dos imbecis que sabem como manipular.
Quando o povo se apercebeu do que estava a acontecer, já era tarde demais.
Portugal é um povo consciente e não nos vamos deixar iludir por fantoches do mal. Somos mais inteligentes do que isso. Somos evoluídos e somos do Bem. E não há nada mais Puro que o Bem.