Criação


Emerge do Silêncio secular a melodia que se quer mostrar. Numa dança de acordes que se unem no tempo, surge o que se procurava sem se saber, encontrando-nos. Dos dedos nascem Poemas que voam por toda a parte até encontrarem as Palavras perdidas de fé na espera de serem capturadas. Nasce uma vida.
O lugar é propício à criação, templo da arte, catedral do silêncio. Estúdio, chamam-lhe, eu preferido chamá-lo de Lugar onde Principiam Todas as Coisas, Laboratório de Porvires, Lar do Criador.
Daqui, e sem matéria prima, saem obras de arte eternas, pedras preciosas que se podem transformar em amuletos capazes de transformar mundos. A média-luz incute o misticismo que este lugar carrega, onde todas as energias se encorporam.
O Obreiro não tem especial apreço em falar do processo de criação, porque é um processo feio, duro e pouco atraente. Interessa-lhe o resultado final e não as mãos sujas da feitura da Obra.
Sempre quis saber o que vinha no Princípio, se o verbo ou o acorde.
Sei que tratar palavras não é tarefa simples, muito menos em abordagem poética. As palavras gostam de ser acariciadas e, se acaso alguma é mal-amada, todos notarão, as palavras são protestantes e descaradas.
Mas, afinal, Obreiro, o que vem primeiro, a Música ou a Poesia? A resposta é simples: a Vida.
E, sentada à direita do Criador, assisto ao processo criativo de frente para o piano. Voam pássaros que aportam nos dedos e me trazem o admirável mundo novo. As palavras não estão escritas, mas já compõem o Poema; ainda não as decifrámos, mas já as sentimos; não sabemos quais são, mas sabemos que só poderão ser aquelas.
O que será a Arte, senão o toque Divino no Humano? E é a isto que o Obreiro chama de Encantamento Interior.