Mudança da Hora?


O Tempo continua o seu curso, andando à sua inexorável velocidade. Não se sente, devagar, devagarinho para uns, mais rapidamente para outros, mas não para. A vida continua.
No percurso, há acontecimentos cíclicos que se vão vivenciando e celebrando de acordo com os usos e costumes da época.
Anualmente, acontecem os ciclos solares que são os solísticos e os equinócios, celebrados desde a antiguidade como referências temporais. A sua descoberta e seguimento permitiu regular os ciclos de vida, nomeadamente das migrações e posteriormente das colheitas.
Mais ou menos de acordo com os equinócios, está associada a mudança da hora de verão e de inverno. Por motivos de metodologia e uniformização global, a mudança ocorre no último domingo de março e de outubro.
A prática da mudança da hora é um acontecimento relativamente recente, tendo ocorrido pala primeira vez em 1916, na Alemanha, com o objetivo de ao adaptar a duração do dia com a luz solar, conseguir-se uma poupança de combustível, tão necessário para o esforço da guerra em curso na época. Portugal também seguiu logo essa metodologia.
Até aos nossos dias, houve várias mudanças e adaptações de acordo com as conveniências e vantagens económicas de cada época.
Com a intensificação da eletrificação do quotidiano, a pretensa economia gerada pela mudança da hora é menor. Em contraponto, os inconvenientes gerados por tal prática têm-se revelado mais danosos, tendo levado o Parlamento Europeu a aprovar em 2019 (410 votos a favor, 192 contra e 51 abstenções) o fim de tal prática, prevendo-se na altura, a sua concretização para 2021, condicionado, no entanto à informação até 1 de abril de 2020, por parte de cada país, de qual o horário iria adotar.
Por um motivo ou por outro, o assunto foi mais uma vez empurrado com a barriga, esquecido, sem data certa para a sua concretização. O COVID tem as costas largas. Agora dá para tudo …
Não é só na Saúde que a Comunidade Europeia anda a passo de caracol. A construção Europeia é feita com passos curtos que se pretendem seguros, mas mais uma vez, os interesses individuais e particulares sobrepõem-se aos coletivos. Será?
Além das necessárias adaptações e acertos de horários nas relações internacionais, passando por todos os ramos de atividade, da qual se realça os horários de transportes aéreos com todas as suas implicações, nomeadamente de segurança e controle de corredores de voo, muitas outras interferências persistem.
O biorritmo das pessoas acertado à luz solar ao longo de milénios, não se consegue corrigir em curto espaço de tempo. Muitas perturbações persistem e prejudicam a vivência humana, nomeadamente as que dizem respeito ao sono. É unanimemente aceite a importância do sono na qualidade de vida das pessoas e qualquer perturbação nesta função, afeta em muito a vivência humana. A invenção do relógio foi e ainda é um grande avanço civilizacional. Este avanço, provocado por tal meio, não pode nem deve ser sonegado por uma pretensa economia energética.
Muitas estórias se poderiam contar sobre a mudança da hora. Recorda-se o sermão de um sacerdote, que ao celebrar a missa dominical, referiu que todos perderam nesse dia uma hora, não sabia que hora as outras pessoas tinham perdido, mas ele tinha perdido a hora para preparar o sermão, pelo que o sermão estava feito.