Vade Retro 2020


Aproveito de Mafalda Anjos, Directora da revista Visão, o título do seu texto de 24 de Dezembro, Vade Retro 2020.
Na realidade, este ano que está prestes a finar-se, marcou-nos de forma indelével. Numa retrospectiva rápida pelos meses vividos em 2020, particularmente a partir de Março, o novo Coronavírus, o famigerado SARS-COV-2, foi o protagonista do ano. Criador da pandemónica pandemia que tantas vidas já ceifou – a Covid-19 modificou a existência da humanidade. Rapidamente se instalou urbi et orbi um outro vírus terrível e também mortífero, o vírus do medo, gerador de desconfianças generalizadas, as quais, evidentemente, todos os meios de comunicação social divulgaram. Passámos a conhecer várias personalidades que, com muita sobriedade e competência, nos foram elucidando sobre o evoluir da pandemia, dos seus riscos e dos cuidados a ter para evitar indesejáveis contaminações.
Releve-se a importância e o reconhecido mérito do SNS que tem mostrado grande segurança e resiliência no combate a este flagelo.
Como consequência lógica, cientistas, investigadores, médicos e outros profissionais reforçaram esta luta e através dos meios de comunicação, fomos sendo informados dos méritos daqueles que, com denodo, trabalham pelo bem da humanidade, tornando-se os verdadeiros heróis que hoje admiramos. A ciência avança. E num período temporal quase inimaginável, começamos a ver “a luz ao fundo do túnel”. As vacinas chegaram e vieram criar as melhores expectativas.
Consequências nefastas da Covid-19 manifestaram-se praticamente em todos os domínios. Falar de 2020, infelizmente, tem sempre este assunto como tema fulcral, secundarizando outros sectores merecedores de relevo e de divulgação.
A forma como o populismo avançou e que, na prática, resultou, por exemplo numa invulgar coligação do PSD de Rui Rio com o Chega de André Ventura, nos Açores traduz um evidente perigo para nossa democracia. O protagonismo deste cavalheiro aumenta com a sua candidatura à Presidência da República!
Falemos, a propósito, nas eleições ocorridas nos EUA, onde os democratas Joe Biden e Kamala Harris venceram Trump, essa inominável criatura, egocêntrica, sobranceiramente ignorante, ignorância exemplarmente demonstrada na forma como tratou uma figura proeminente deste ano, o Dr. Anthony Fauci, cientista que desempenha um importante papel na luta contra os malefícios da Covid-19.
Politicamente, no nosso país, assistimos às dificuldades com que o Governo se debateu em diversas frentes, quase sempre acossado, à esquerda e à direita, por uma oposição pouco consistente, digo eu. António Costa continua a manter prestígio e importância conferidos por personalidades como Emmanuel Macron, Angela Merkel e Ursula von der Leyon. Boas perspectivas, pois, para 2021, ano em que Portugal assumirá a Presidência do Conselho da União Europeia, entre 1 de Janeiro e 30 de Junho.
Na Cultura, muitos dissabores a pandemia também causou. Vários espectáculos foram cancelados, outros adiados para a posteridade e actrizes, actores e outros artistas muito se ressentiram.
No Desporto, depois de algumas lacunas, as ligas de futebol recomeçaram a pôr em dia o calendário agendado, mas as equipas principais viram orçamentos reduzidos e muitos atletas foram, também eles, contaminados.
Penso que poucos sectores sentiram algum alívio e muitos, repito, encerraram as suas actividades.
Também em 2020 vimos partir grandes personalidades que nos legaram o seu exemplo e a sua obra, contributos que devem merecer o nossos reconhecimento. Destaco, por meu critério, a figura de Eduardo Lourenço, grande ensaísta e insigne pensador que faleceu no dia 1 de Dezembro. Homenageando a sua memória, recordo, também, Tiago Gonçalves e Daniel Vendeiro.
Para 2021, as expectativas são, ao mesmo tempo, muitas e poucas. Poucas, porquê? Basta que seja melhor do que este ano… Muitas, porque queremos acreditar que a vacina vai ser uma realidade mais disseminada e que poderá trazer paz à nossa vida, reduzindo a nossa ansiedade.
Um 2021 que deita Trump borda fora, será mundialmente um enorme alívio. As eleições que vão decorrer no nosso país, primeiro as presidenciais e posteriormente as autárquicas respeitarão, acredito, os valores democráticos, aguardando que os eleitos correspondam às nossas esperanças e expectativas. Desejo que em 2021 sejamos capazes de vencer os desafios a enfrentar, reganhando a confiança num melhor e mais sadio relacionamento humano.
Enfim. Que a nível da nossa cidade e concelho, do nosso país e dos países nossos amigos exista paz, saúde e harmonia.
Guarda, 30 de Dezembro de 2020
António José Dias de Almeida, professor aposentado