CERVAS considera que a estratégia de algumas entidades «não é a mais adequada»

O relatório do CERVAS conclui que 2015 foi dos «melhores anos de actividade». Mas nem tudo é positivo. Aquela estrutura alerta que a estratégia que algumas entidades responsáveis possam adoptar de não recolher as crias de espécies protegidas, quando são encontradas por um particular, não é a mais adequada.
ano passado esteve, «de uma forma geral», ao nível dos «melhores anos de actividade do CERVAS [Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, com sede em Gouveia] desde o início do seu funcionamento», em 2006. «Os resultados da recuperação de animais continuam a ser positivos, com percentagens de libertação próximas dos habituais 60 por cento, e foi possível manter a equipa técnica contratada», conclui o Relatório de Actividades 2015.
Mas nem tudo é positivo. O documento aponta a «ligeira subida do número de ingressos relacionados com o cativeiro/captura ilegal, embora ainda tenha ficado longe de outros anos com maior número de apreensões por parte do SEPNA/GNR da Guarda». «O CERVAS considera muito importante em termos de conservação da natureza, numa perspectiva de sensibilização e educação ambiental, que continue a haver um esforço por parte das autoridades competentes para detectar e punir as situações de captura e cativeiro ilegal de espécies protegidas, que infelizmente ainda continuam a ser uma realidade bem presente na sociedade portuguesa», defende.
«Tal como referido em relatórios anteriores em relação à recuperação de crias de espécies protegidas, o CERVAS considera que a estratégia que algumas entidades responsá-veis possam adoptar de não as recolher quando são encontradas por um particular, deixando-as no campo, em áreas humanizadas e em situações onde não se pode confirmar a presença dos progenitores, não é a mais adequada», destaca o relatório. «A probabilidade de morte por predação ou por debilidade/fome pode ser grande pelo que consideramos que haverá maior probabilidade de sucesso se a cria for entregue num centro, onde possa ser feita uma triagem e avaliação de cada situação», justifica.
Ainda pela negativa, o centro destaca «o aumento de número de ingressos devido a tiro, atingindo valores próximos dos máximos registados, o que poderá revelar uma tendência preocupante de aumento de animais feridos devido a abate ilegal».
Actividades
envolveram quase 10 mil pessoas
Entre «1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2015, deram entrada no CERVAS 553 animais, dos quais 68 por cento (376 animais) se encontravam vivos na altura do seu ingresso. A estes somam-se 32 animais (10 deles irrecuperáveis residentes) que se encontravam no centro no final de 2014, sendo que 2 destes ingressaram em 2009, 2 em 2010, 2 em 2011, 1 em 2012, 3 em 2013 e 22 em 2014».
«Comparando com os registos de 2014, verifica-se um grande aumento (363 para 553) no número de ingressos totais e de vivos (256 para 376), sendo estes números os mais elevados desde 2006», revela o documento.
Nesse período foi possível libertar «237 animais, do total que se encontrava em recuperação, o que representa uma taxa de libertação de 59,54 por cento, e se traduz num aumento de cerca de 0,5 por cento face ao registado no ano de 2014».
«Estes resultados tornam 2015 o segundo melhor ano desde o início da actividade do CERVAS ao nível do sucesso da devolução à natureza», destaca o relatório, salientando que «considerando todo o período de actividade do centro, os resultados globais são actualmente de 62,47 por cento de animais libertados».
A ordem mais representada nos ingressos foi a «Strigiformes (145), seguida da Passeriformes (115) e Falconiformes (101), sendo de destacar o elevado número de espécies diferentes que ingressou (94)».
A causa com maior número de ingressos foi a «queda do ninho (135), seguida do atropelamento (110), tal como tem sido habitual, sendo de destacar pela negativa o elevado número de ingressos por captura e cativeiro ilegal (57) e tiro (18).
«Os distritos da Guarda (220) e Coimbra (158) foram as principais áreas de origem de animais vivos, seguidos de Viseu (120). O SEPNA [Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente]-GNR continua a ser a entidade com maior número de animais vivos entregues no CERVAS (218), sendo de destacar a equipa de Viseu, a que mais animais entregou (49)», refere o relatório.
Durante o ano passado foram ainda realizadas «159 acções de devolução à natureza de animais selvagens recuperados no CERVAS, envolvendo 5510 pessoas, números que representam um significativo aumento em relação ao ano anterior e que são os mais elevados de sempre».
«Se considerarmos todas as actividades desenvolvidas, houve 9701 pessoas alcançadas», evidencia o CERVAS, acrescentando terem sido realizados «15 estágios: 4 na área da Biologia, 6 de Medicina Veterinária e 5 noutras áreas».
«O modelo de gestão actual pode ser melhorado e adequado às actuais dinâmicas, perspectivas e capacidade de trabalho da equipa do CERVAS e da actual Associação ALDEIA, o que significa que poderão ser necessárias alterações futuras para se conseguir obter ainda melhores resultados», conclui o relatório.