A Árvore
A meia distância do trajeto Guarda – Covilhã olho para a direita.
Olho para a Serra e vislumbro uma árvore. Firmo o olhar e vejo uma árvore verde, sozinha, em centenas de hectares negros.
“Altiva Solidão” diria Eduardo Lourenço.
De pé, firme, de luto. Assim se apresenta. Assim nos representa a todos. Vida em espaço desértico. O presente enquanto prenúncio de futuro. Prenúncio de morte.
A Árvore, todas as árvores, são hoje (e sempre) a arma de estabilização dos solos. A garantia de permeabilidade, infiltração e fixação de água. A Árvore enquanto sequestradora de carbono e produtora de oxigénio. A arma das armas na luta contra as alterações climáticas e suas consequências: fenómenos meteorológicos extremos, perda de biodiversidade, degradação ambiental e da saúde humana. A Água como sangue de vida e cicatrizante da ferida. Ferida provocada pelo abandono do interior e muito agravada pelos incêndios.
Árvores, Água e População Residente, enquanto ecossistema socioeconómico e ambiental, sustentável. Em coabitação próxima e frutuosa sem visão fundamentalista (muito em voga em diversas correntes de opinião e especialmente em alguns organismos da administração central). Sem predomínio exclusivo de um sobre os outros, nem segmentados, nem de costas voltadas. A simbiose enquanto desenvolvimento sustentável.
Vem de longe, por isso muito esquecida, a alegoria Bíblica da árvore do conhecimento enquanto ilustração de unidade entre o Homem e o mundo natural. “ El bosque nos daba de comer, y en cierto modo, incluso de beber y «de respirar»”. (1)
Todos os dias, em todas as zonas geográficas, em todas as espécies, sofremos as consequências deste deslaçar da relação do Homem com o seu meio envolvente. A pandemia em que estamos (Covid-19; 2020- …) é só um exemplo.
Se o povo, que tudo sabe, sintetiza: “ Devemos fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore” muita razão terá. Cuidar com conhecimento e de forma sustentável – a trilogia criativa da Humanidade.
(1) – Ignacio Abella; EL BOSQUE SAGRADO; Creencias mitos y tradiciones de los pueblos cantábricos; Libruscos, 1º ed, 2017.
Palavras dos outros:
1 – «Tornámo-nos numa Disneylândia para ricos e milionários à custa da classe média», João Vieira Pereira, Expresso, 16-09-2022
2 – «Não pode haver pior exemplo dos fracassos do país do que a realidade dos 11,6% dos portugueses que trabalham mas nem assim conseguem escapar às amarras da pobreza.», Manuel Carvalho, Público, 16-09-2022
3 – «Saúde e Educação! Dois bons exemplos, talvez os melhores, do que é a incapacidade de gestão, a deficiência de previsão, a falta de planeamento e a ausência de espírito pratico realista.», António Barreto, Público, 17-09-2022