A Mitologia do Nosso Tempo
Divertia-me eu como menino e moço com a Mitologia Grega, que era quase simétrica à Mitologia Romana. Eram isométricas entre si e nas duas os Deuses tinham defeitos quase iguais aos Homens e Mulheres.
Todo esse mundo maravilhoso deixou de existir quando surgiram as religiões monoteístas.
Entretanto, enquanto menino colecionei cromos onde surgiam outros deuses, mas não cheguei a colecionar jogadores de futebol. Passei-lhes ao lado.
Agora vou lendo jornais e por vezes livros com histórias maravilhosas, que me tentam convencer que alguns dos meus contemporâneos são mesmo Deuses, incapazes de pecar, devendo eu por isso reverenciá-los como dotados de virtudes celestiais.
Há umas revistas cor-de-rosa que falam de gente que casa e se divorcia, dotados também de defeitos e com umas quezílias, que até levam aos tribunais, onde, tudo se resolve bem. Tentam ainda convencer-me de que os banqueiros é que sabem o que nos convém e que, pela mão deles, tudo se conjuga para que a nossa felicidade seja eterna. Apresentam também uns juízes conviventes na alta sociedade, que até julgam de modo a que todos os poderosos fiquem sempre bem.
Constroem assim mitologias de gente quase iguais aos outros mortais, que se diferenciam do resto da maralha, ma só por nunca os juízes chegarem a conclusões que os levem ao castigo merecido nas nossas prisões, mas alguns fogem para longe, sofrendo aí a morte em solidão. E em solidão é o seu velório por os amigos de véspera desaparecerem sem deixar rasto. E, isoladamente, surge um banqueiro, Mira Amaral, a pedido da viúva, que foi colega do morto quando trabalhavam os dois no Banco de Fomento Nacional, mas que teve destino melhor pois o seu banco não faliu. De facto, diz-nos o Jornal de Notícias que: O ex-ministro social-democrata Luís Mira Amaral, antigo presidente do banco BIC, foi a única figura de relevo da área da política e da banca presente na cerimónia fúnebre. Dizem ainda que o advogado Ricardo Sá Fernandes marcou presença.
Como tudo se passa no mundo dos deuses da banca, dizem alguns comentadores, como Nuno Ivo Gonçalves (Encerrado “Dossier” dos Bancos Falidos? – Jornal Tornado, acesso em 9 de junho de 2022), que vamos rapidamente esquecer que a situação criada a partir de 2008, como acabou por ser muito mais complexa que a das Caixas Económicas Faialense e Açoriana pois nos casos do BPP, BPN, BANIF, BES e CGD se verificou o desembolso de elevadas quantias pelo Estado e sempre muito diferentes.
Ninguém deste mundo falseado das finanças falou dos livros de João de Oliveira Rendeiro, que possuo, e que o Banco de Fomento Nacional publicou, um em 1984: Estratégia industrial na integração europeia: contributo para uma estratégia industrial agressiva em Portugal; e outro em 1985: Progresso técnico e evolução estratégica na indústria de máquinas-ferramentas: implicações para Portugal.
Muito menos falou de: Competitividade e especialização perante a CEE : elasticidades internacionais da indústria: uma análise econométrica/ João Oliveira Rendeiro… [et al.]. – [Lisboa]: Gabinete de Estudos e Planeamento, 1980.
A imprensa da nova mitologia de nada disto falou, mas de acordo com a sua biografia escolar, devemos ter-nos cruzado nos corredores do ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras), rebatizado em 1972 como Instituto Superior de Economia, ISE pois tínhamos quase a mesma idade.
Diferenciou-nos o bem diverso mediatismo das nossas vidas.
De facto, os mitos do nosso tempo levam-nos por caminhos onde as ilusões nos encaminham para becos sem saída. Foi o que lhe aconteceu.