A Procissão
Voltarão os penitentes, nesta sexta-feira Santa, a envergar a opa preta da Irmandade e a esconder a cara no capuz bicudo, para acompanhar o Enterro do Senhor pelas ruas da vila, após a suspensão da Cerimónia maior da Páscoa, causada pela pandemia.
As candeias, por eles empunhadas, alumiarão a imagem do Senhor no Seu Esquife.
O Senhor, cuja imagem, a tradição e lenda contam, terá falado ao escultor no momento em que admirava a obra concluída, dizendo: – “Onde Me viste que tão bem Me retrataste?” – e logo depois o terá mandado confessar para que com Ele entrasse, daí a três dias, no Paraíso.
Uma lenda que passando de geração em geração, poderá ter arreigado a Fé nesta Imagem do Senhor morto e transformado a procissão da noite no momento de encontro dos Manteiguenses que, por estes dias, regressam para as cerimónias da Morte e Ressurreição de Cristo.
Cerimónias que servem também de pretexto para apaziguar as saudades da terra e dos amigos, num momento em que a pandemia permite uma abertura à vida que nos escapou nos últimos anos, apesar de termos de aprender a com ela conviver, mantendo as cautelas devidas.
E se o reencontro convida à festa (ainda que com parcimónia e em segurança), sobretudo no Domingo de Páscoa em que a Cruz anda de casa em casa, também as novidades sobre a vida da vila encherão as conversas.
Será assim quase impossível que, entre dois copos, não se escape a língua para o momento político que a vila atravessa, após a vitória, em setembro, do Movimento Independente e as novidades recentes.
Haverá por certo, entre as conversas, quem possa apontar a falta de diálogo como razão para a repetição de eleições, em Maio, à Assembleia de Freguesia de Santa Maria. Tudo porque as diferentes sensibilidades políticas não cederam à vontade da força ganhadora, com minoria, de ter um executivo apenas com os seus eleitos e quererem um executivo repartido, o que a acontecer até não seria novidade na freguesia e na vila.
À coação virá ainda o momento menos bom que o PS local atravessa, após a derrota de setembro e a renúncia ao mandato de mais um dos seus vereadores eleitos!
Mas isso serão apenas conversas de amigos… em tempo Pascal, onde por certo pedirão, segundo a sua fé, ao Senhor, no Esquife ou Ressuscitado, que encaminhe a vila e aqueles que a governam.