A vida de um guardense na China

Há quase dois anos na China, Frederico Dias, treinador da Guarda, não esconde que já sente saudades de Portugal mas reconhece que se sente realizado com o projecto que desenvolve na Academia Luís Figo. O processo de adaptação a uma cultura completa-mente diferente já está ultrapassado mas todos os dias aparecem novos desafios. A companhia de mais 6 técnicos portugueses ajuda a passar o tempo mas o regresso a Portugal está sempre no horizonte.
O treinador da Guarda, Frederico Dias saiu de Portugal em Agosto de 2014 para abraçar um novo desafio na Academia Luís Figo, na China. Depois de vários anos como jogador de futebol e de uma curta carreira como técnico, Frederico Dias, de 34 anos (faz 35 em Setembro) desempenha, actualmente, as funções de coordenador e treinador na Winning League Figo Academy – Chengdu (China) e treinador principal da equipa/selecão de U13 da Associação de Futebol de Chengdu.
Numa grande entrevista a este semanário, o jovem técnico referiu que já está adaptado à vida naquele paios asiático, acrescentando ainda que «quem se adapta e consegue viver e trabalhar na China estará pronto para qualquer desafio. A cultura é completamente diferente. A alimentação, o trânsito caótico onde tudo pode acontecer, a mentalidade dos chineses totalmente diferente da portuguesa, o clima e a poluição apesar de em Chengdu esta não ser extrema como em algumas zonas do país, é tudo muito diferente.
O relacionamento com os chineses também não foi um problema apesar da barreira linguística. Frederico Dias disse que, «como em todo o lado há pessoas boas e más», frisando no entanto que «o maior problema, é que quando se ocupa um cargo de liderança, torna-se mais difícil esse relacionamento porque tem que se exigir quantidade e qualidade de trabalho e os chineses não estão preparados para isso. É um processo moroso e difícil para os preparar para aquilo que se pretende. «Os chineses são muito pouco organizados e isso torna a nossa tarefa mais complicada, mas estamos cá também para isso», sublinha.
A azáfama do dia-a-dia, na China, também não deixa muito tempo disponível a Frederico Dias, uma vez que acumula as funções de coordenador da Academia Luís Figo em Chengdu e de treinador principal da equipa de U13 da Associação de Futebol de Chengdu. Para além de todo o planeamento e operacionalização dos treinos da equipa de U13, o técnico tem ainda de planear, avaliar e preparar praticamente tudo o que é feito na Academia Figo, em Chengdu, onde trabalha com o “staff” chinês e com mais 6 treinadores portugueses (60 treinadores portugueses na Academia espalhados por todo o país), num projecto que engloba mais de 250 atletas.
Nas (poucas) horas livres, Frederico Dias opta por ir ao ginásio e actualizar-se na área do treino de futebol.
Apesar do processo de adaptação já estar ultrapassado e de considerar o projecto aliciante, o técnico não esconde que já sente saudades de Portugal. «A questão das saudades é a mais problemática, imensas saudades de toda a minha família, sentir que muitas vezes precisam de nós e não podemos ajudar por não estarmos presentes é muito complicado. Obviamente que para além disso as saudades da nossa comida são grandes assim como de algumas rotinas que temos no nosso país, como é o caso do café», referiu.
Por isso, o regresso a Portugal pode acontecer num futuro próximo. Frederico Dias quer tirar o 4º nível do curso de treinador de futebol, mas aguarda pelo final do 2º ano de contrato para depois decidir o futuro.
Reconhece que a experiência na China o ajudou a crescer como treinador e gestor, até porque foi a primeira vez que teve oportunidade de trabalhar diariamente com uma equipa, de preparar e operacionalizar todo o processo de treino com sessões diárias o que é muito diferente do trabalho que é feito com 3 ou 4 sessões semanais. «Além disso na vertente da gestão também fui e sou posto a prova todo os dias como coordenador da academia aqui na cidade o que também me fez crescer», adiantou.
O projecto da Academia Luís Figo na China está a ter um forte impacto na China, nomeadamente ao nível do futebol de informação. Apesar de ser um projecto aliciante, o treinador da Guarda detecta várias diferenças com o futebol europeu. «Em Portugal os jovens já nascem a quererem jogar futebol e aqui isso não acontece. Depois uma questão de mentalidade. Aqui há uma postura de ficar na expectativa e aguardar por aquilo que faz o adversário e quando se ataca não se pensa na defesa, no processo defensivo que virá após a perda da posse de bola. Mas obviamente que a maior diferença está na formação. O futebol é um desporto colectivo e não um aglomerado de atletas que trabalham e actuam individual-mente e que têm somente que desenvolver a qualidade técnica individual.
Faustino Caldeira
fcaldeira@gmpress.pt