Arte Rupestre do Vale do Côa atraiu um milhão de pessoas em 20 anos
Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) e o Museu do Côa (MC) receberam 600 mil visitantes em duas décadas, de acordo com dados oficiais, mas o director dos equipamentos, António Baptista, fala em números reais rondando um milhão de pessoas. «O [santuário rupestre do] Vale do Côa trouxe cerca de um milhão de pessoas ao território. As gravuras tiveram grande repercussão mediática a nível mundial», frisa o também arqueólogo, defendendo que, quanto à afluência do público, as contas não se podem fazer apenas com os registos oficiais, até porque a área dos territórios do Côa é grande, abrangendo dez concelhos. Só o museu, que apenas abriu em Agosto de 2010, recebe anualmente, em média, 41 mil visitantes, exemplificou. «Tanto o PAVC como o MC têm contribuído para dinamizar o território do Vale do Côa e do Douro Superior, que têm vindo a perder população ao longo dos anos», destacou António Baptista, em declarações à Lusa.
O investigador é da opinião que são projectos como o Parque Arqueológico e o Museu do Côa que vão contribuir, de futuro, para que este território não fique completamente despovoado. «Há pessoas que não chegavam à região do Côa se não fosse o aparecimento das gravuras, o PAVC e o MC», acrescenta. Sublinha, no entanto, que sobre os dois equipamentos paira uma certa «indefinição» em relação ao seu modelo de gestão. Isto, apesar de a tutela afirmar que o Parque Arqueológico e o Museu do Côa vão manter o modelo de fundação. «É importante resolver este problema. Trata-se de um problema e não vale a pena escondê-lo», assinala, frisando que o PAVC e o MC só têm conseguido «resistir e sobreviver fruto da qualidade daquilo que é mostrado aos visitantes».
Para a Acôa – Amigos do Parque e do Museu do Côa, o Parque Arqueológico, a classificação da arte como Património Mundial e o Museu do Côa levaram o nome do Côa ao mundo e marcaram fortemente a região. «Primeiro de uma forma acelerada, com a vinda de milhares de visitantes, depois de modo paulatino mas sempre em crescimento, chegaram turistas, criou-se emprego, geraram-se negócios. O mais recente curso de guias de arte rupestre, muito concorrido, é sinal dessa mesma vitalidade», observa a presidente da Acôa, Alexandra Cerveira Lima.
Segundo a responsável, do que inicialmente se previa, ficou por cumprir a criação de um verdadeiro Parque Arqueológico que, diz, à face da lei não existe e como tal não dispõe de um plano de ordenamento.
Para os responsáveis pela Acôa, a Fundação Côa Parque deve ser activa, capaz de novas dinâmicas. E há, na perspetiva da Amigos do Parque e do Museu, um claro vector a melhorar: a relação com o território e dos dois lados da fronteira.
«A arte rupestre do Côa e Siega Verde, sítio ibérico património mundial, pode e deve ser um motor para um território alargado. Houve essa ambição – a consciência dessa obrigação – e perdeu-se», sublinha. Nesse sentido, «é essencial» que a fundação «demonstre vontade e capacidade» para agarrar e dinamizar o Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos (Provere) do Côa. «Até hoje demonstrou-se o contrário», diz Alexandra Cerveira Lima.
Apesar de alguns percalços, a iniciativa privada começa a mostrar interesse na descoberta do potencial arte rupestre do Côa e na sua divulgação, envolvendo-se na formação de guias e na promoção de visitas. «Frequentei um curso de guias. Vou começar a promover visitas e tenho boas expectativas quanto ao futuro. Acho que é importante que quem está na região deve dar o seu contributo para divulgação do património», disse o novo guia e empresário agrícola Lopo de Castilho. Por sua vez, o presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa, Gustavo Duarte, diz que muito mais poderia ter mudado no concelho com a descoberta das gravuras rupestres e muito mais pode ser feito. «Como se disse na altura, queremos que o Museu do Côa e o Parque Arqueológico contribuam para o desenvolvimento do Vale do Côa», frisou, apontando mudanças no afluxo turístico a Foz Côa, mas referindo que há potencial para mais.