Atentado à história


À medida que a esquerda radical e extrema vai tendo algum protagonismo mediático é normalíssimo vermos vertidas na comunicação social, algumas ideias e propostas completamente abjectas, desfasadas da realidade e de intenção muito duvidosa. De entre estas, tem-se destacado de uma forma geral, um ataque à nossa memória colectiva, com tentativas de destruição de património público e uma ideia peregrina de reescrever a história à luz de uma doutrina acéfala e completamente contrária aos princípios democráticos que nos regem.
Portugal é um país pequeno, sem grandes recursos naturais, potencial industrial ou serviços financeiros de topo, como acontece com a Suécia, Bélgica ou Suiça, isto, só para citar alguns com uma dimensão populacional próxima da nossa. Apesar de constar entre os 40 países com melhor PIB nominal per capita, a realidade mostra-nos que cavalgamos alegremente na cauda da Europa, com tendência para nos aproximarmos da ponta da mesma.
No entanto, há uma coisa que nos torna grandes e que nos projecta internacionalmente: a nossa História. Foi dessa história que resultou a descoberta das grandes rotas marítimas que impulsionaram o comércio mundial e o conhecimento físico de grande parte do globo. Foi essa história que no seu todo contribuiu para o facto de o português ser hoje a 6ª língua mais falada no mundo. Foi essa mesma história que possibilitou outrora, que aquele pequenino rectângulo cravado na parte mais ocidental da ibéria fosse uma das mais importantes potências mundiais e a precursora daquilo que hoje chamamos globalização.
Como tal, a história portuguesa donde sobressaiem os descobrimentos e por causualidade o império português, são acontecimentos passados que, enquadrados no espírito e quadro de valores da época, engrandecem uma nação e tornam orgulhoso o seu povo.
Por isso, é com manifesta surpresa que vejo o deputado do Partido Socialista, Ascenso Simões, sugerir que “… o Padrão (dos Descobrimentos), num país respeitável, devia ter sido destruído” pelo facto de ter sido algo que saiu do regime de Salazar.
O Padrão dos Descobrimentos ou Monumento aos Navegantes, foi uma obra concebida em termos arquitectónicos por Cottinelli Telmo, sendo a estatuária da responsabilidade de Leopoldo de Almeida. Este monumento foi erigido em 1940 por ocasião da Exposição do Mundo Português para homenagear as figuras históricas dos descobrimentos portugueses e na minha opinião, é um dos mais emblemáticos e bonitos ex-líbris da cidade de Lisboa.
Por essa ordem de ideias e na senda da proposta de Ascenso Simões, também se devia destruir o Hospital de Santa Maria, a Ponte 25 de Abril e já agora, a Ponte da Arrábida, que é para a malta do norte não ficar com ciúmes… pois foram algumas das obras concebidas e construídas durante o regime do Estado Novo.
Vivemos em democracia e felizmente temos liberdade para dizer o que quisermos, no entanto, há certas coisas que nos envergonham, não tanto pela imbecilidade do que é dito, mas sim, por se pensar que essas ideias poderão alguma vez ter eco na sociedade portuguesa e como tal, serem postas em prática.
Preocupem-se com o futuro e deixem a história sossegada!
*O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos.