Bombeiros admitem usar «machado da paz para fazer a guerra»


O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, avisou Domingo que os bombeiros, apesar de serem os “soldados da paz”, estão dispostos a «desenterrar o machado da paz para fazer a guerra». «Não o desejo e os bombeiros também não o querem e por favor evitem que tenhamos de o fazer», disse nas come-morações do Dia Nacional do Bombeiro, em Cascais, depois de ter desfilado um rol de exigências que o Governo não tem satisfeito.
«Porque é que os poderes públicos não respondem favo-ravelmente às propostas que lhe são apresentadas pela Liga?», questionou Jaime Marta Soares, perante bombeiros mas também perante a ministra da Adminis-tração Interna, Constança Urbano de Sousa, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo Rebelo de Sousa falou durante breves minutos apenas para dizer que o fazia com «emoção e orgulho», orgulho de ser Presidente «de uma pátria que tem os melhores bombeiros do mundo». Constança Urbano de Sousa também elogiou o papel dos bombeiros e salientou a sua importância, mas não respondeu a qualquer crítica ou exigência da Liga.
A lei de financiamento e as declarações do secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, sobre a comparticipação aos voluntários que integram o combate aos incêndios são alguns dos motivos do descontentamento dos bombeiros. Foi durante a apresentação do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) no par-lamento que o secretário de Estado afirmou que a comparticipação aos bombeiros que integram o DECIF vai manter-se nos 45 euros por dia, sublinhando que um bombeiro recebe, ao final do mês, 1.350 euros, montante que totaliza uma despesa para o Estado de 22 milhões de euros por ano.
Estas afirmações de Jorge Gomes geraram revolta em algumas corporações de bombeiros, que exigem um pedido de desculpas, uma vez que o secretário de Estado omitiu que os bombeiros não podem ser escalados 24 horas consecutivas durante 30 dias seguidos.
Outro dos motivos de descontentamento relaciona-se com a lei de financiamento às associações humanitárias de bombeiros, aprovada em 2015 pelo anterior Governo PSD/CDS-PP.
Apesar do financiamento se manter nos 25,7 milhões de euros de 2016, este ano há 210 corporações de bombeiros que vão receber menos dinheiro, enquanto outras 203 viram o seu orçamento aumentado.
Com esta lei, o financiamento às corporações de bombeiros passou a ser feito de acordo com critérios assentes no risco e na atividade dos corpos de bombeiros, como índice do risco de incêndio, número de ocorrência, população, área geográfica e número total de operacionais.