Cães e cercas para prevenir prejuízos causados pelo lobo

Uma mudança na maneira de pensar é a solução apontada por Francisco Petrucci-Fonseca para minimizar os conflitos entre a presença do lobo-ibérico e as populações locais. «Podemos estar a fazer tudo o que quisermos mas se as pessoas não mudarem a sua mentalidade, se não aumentar-mos a nossa capacidade de conviver com a natureza, não vale a pena estar nem a proteger o lobo, nem a proteger o lince, nem a proteger as águias, nem nada, se nós não conseguirmos partilhar todo este espaço não vale a pena», defende o presidente do Grupo Lobo, responsável pela coordenação em Portugal do Life Med-Wolf, projecto co-financiado pela Comissão Europeia que promove a coexistência harmo-niosa entre lobos e homens.
As áreas de intervenção do projecto, iniciado em 2012 e que termina em 2017, localizam-se nos concelhos de Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Pinhel e Sabugal, no distrito da Guarda, e Idanha-a-Nova e Penamacor, em Castelo Branco, incluindo o núcleo populacional de lobo a sul do rio Douro.
O projecto está igualmente em curso na região italiana de Grosseto, onde é vivida uma situação similar.
A redução dos prejuízos, através a prevenção, sofridos pelo gado nestas áreas, causados pelo lobo, e que nos últimos anos tem sido registados com alguma frequência, é um dos objectivos do Life Med-Wolf. A selecção e entrega gratuita de cães de protecção e a instalação de vedações eléctricas ou convencionais são as medidas que estão a ser concretizadas para que este objectivo seja concretizado.
Em termos concretos, o projecto já entregou 25 cães guardadores de gado a agricultores, com o respectivo apoio veterinário e alimentar, e apoiou a instalação de mais de 30 vedações fixas em explorações pecuárias, revelou o Grupo Lobo Quarta-feira da semana passada, na Guarda, em conferência de imprensa. Presentes estiveram também os responsáveis italianos Life Med-Wolf e os monitores da Comissão Europeia, que estiveram em Portugal para avaliar os avanços do projecto.
Maior intervenção em Almeida
No distrito da Guarda, o maior número de cães foi entregue no concelho de Almeida, (13), seguindo-se Pinhel (4), Sabugal, Figueira de Castelo Rodrigo e Guarda (1). O concelho de Almeida surge também destacado no número de cerca instaladas: 28, sendo as restantes em Pinhel (4), Guarda (2) e Sabugal (1).
Acções que Francisco Petrucci-Fonseca garante estarem a resultar na diminuição do número de prejuízos atribuídos aos lobos. Já sobre o dinheiro investido, o presidente do Grupo Lobo não revelou números, justificando não saber «de cor» os valores, adiantou no entanto que «são muitos milhares de euros».
Também não possuía números concretos quanto aos prejuízos causados pelo lobo, mas afirmou serem «muitos» os «registados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas», que acompanham no terreno.
Revelou contudo que «cerca de 11 por cento de casos que temos levantado são prejuízos causados por cães», alertando que «muitas vezes esses animais são abandonados e isso é um problema sério também de saúde pública, além de que 11 por cento é bastante na economia aqui na região».
«Há também a considerar que muitas vezes as pessoas não estão preparadas para proteger os seus animais porque a verdade é que tem que haver um pastor, tem que haver um cão de gado, tem que haver algo que diminua esse impacto que os lobos fazem junto dos animais domésticos, e para isso tem que haver um envolvimento da parte do criador de gado e muitas vezes nós temos encontrado isso», afirmou o dirigente. «Uma mais-valia deste projecto é mostrar que nós estamos prontos para ajudar as pessoas, ninguém está contra ninguém. Isso é que é muito mais importante», destacou.
Francisco Petrucci-Fonseca recordou que «os antigos sabiam viver com o lobo. Procuraram uma forma natural de defender os seus pertences domesticando ou seleccionando raças de cães que ajudam a proteger os animais do ataque do lobo e outros predadores». O que mudou? «Nós não estamos a saber viver com a natureza, cada vez estamos mais afastados da natureza e esse é que é o grande problema».
«Não é impossível encontrar um caminho» para facilitar a coexistência com o lobo, acredita Ilenia Babetto, da Comissão Europeia, considerando ser «importante encontrar caminhos para melhorar as soluções».
GM