De que matéria é o Sonho que ainda nos guia?
Chama-nos o Divino, como se o Divino tivesse voz. Fazemos de conta de que não o ouvimos, de que não percebemos que é a nós que nos chama, por sabermos que há casas que ele não protegeu.
Na Liberdade que é amar em silêncio e em paz, desconforta-nos saber que Mulheres, no Afeganistão, nem o próprio rosto podem mostrar, que vivem prisioneiras a todas as horas do seu dia. Enquanto as mãos se dão, as mãos que se perderam, ensanguentadas por bombas e mísseis. No paraíso onde a música árabe nos desvenda cada abraço, a separação abrupta de tantos que se amam, o fim de vidas num fim do mundo que vemos longe e nunca imaginámos sabê-lo tão perto.
Já não reclamamos quando o sol não se mostra, porque os aviões que vemos sobrevoar não vão disparar sobre nós nem destruir as nossas cidades, que tanto amamos.
A paciência, que antes se poderia perder por dias nãos, transforma-se em gratidão por estarmos aqui, no lugar em que podemos existir.
A utopia que nos viu crescer e que consistia na ideia de que seríamos capazes de mudar o mundo foi desmascarada pela crueldade que, por vezes, acreditamos ser bem maior que o Bem.
Porém, a noite continua serena e, amanhã, o sol nascerá com a mesma beleza que nos conquista a vontade de viver.
Quase a adormecer, cedemos à voz que nos embala. Vamos fechando os olhos, abrindo-os no sobressalto não dos alarmes estridentes do perigo, mas da felicidade de podermos ser por inteiro, na Sorte que a voz do Divino insiste em nos lembrar.
Arquitetamos melodias, poemas e sonhos, porque não sabemos fazer outra coisa melhor. Numa ode ao Amor, que queremos do mundo, escrevemos que o nosso Beijo há-de ser a Salvação. O nosso Beijo é Amor e o Amor é a Salvação!