Director do Museu da Guarda pretende recuperar a «matriz original»

Recuperar a «matriz original, a matriz para a qual foi criado», é o primeiro objectivo do novo director do Museu da Guarda, João Mendes Rosa, que há pouco mais de uma semana assumiu funções, passando a integrar o quadro da autarquia da Guarda após um acordo de mobilidade com a Câmara do Fundão. A tutela desta instituição cultural, recorde-se, passou em Outubro passado para a Câmara da Guarda, no âmbito de um contrato interadministrativo de delegação de competências na área da cultura, celebrado com a Presidência do Conselho de Ministros.
«É um museu que deve ter um âmbito territorial que corresponda ao distrito da Guarda. E parece-me que a primeira grande inovação que se deve introduzir não é mais, e passo o contra-senso, que recuperar a matriz primitiva, o Museu Regional da Guarda, até a designação dar de certo modo dar a característica orgânica do próprio museu», defende o arqueólogo, natural da Guarda.
Além da mudança de nome, o museu passará a ter a componente, «da qual o presidente da Câmara tem falado várias vezes», recorda, de arte contemporânea que é o Quarteirão das Artes [que o município quer projectar para todo o espaço compreendido pelo Museu da Guarda, pelas instalações do futuro Museu de Arte Sacra e pelo Paço da Cultura], que está integrado». «Para já é essa a primeira aposta a ser efectuada no museu», afirma.
Em segundo lugar, adianta o director, «será o museu que tem que estar virado para a cidade, para a comunidade guardense. A cidade em si, pela sua capitalidade, mas também a própria região a que se reporta o próprio museu. O museu tem que estar em comunicação permanente com a cidade, com as pessoas da Guarda. Tem que ser um museu com uma forte compleição comunitária». «Um museu que não comunica com as pessoas é um museu que acaba por ser uma entidade que está desfasada da sua própria realidade e o museu não deve isso, deve espelhar a cultura viva e não a cultura fóssil da cidade», considera, destacando que «essa motivação é fundamental».
A estratégia de João Mendes Rosa passa ainda pela alteração do «discurso museográfico», que defende que «ao invés de ser algo que pode dar um pouco a ideia de puzzle museológico tem que ser algo contínuo». «O discurso museográfico deve contar a história da cidade e a história da região, desde os primórdios do homem, desde a pré-história, até à contemporaneidade, aquilo que o presidente [da Câmara da Guarda, Álvaro Amaro] chamou, e muito bem, o Quarteirão das Artes, ou seja, a arte habitar tal como as pessoas o coração da cidade. Mas o museu deve contar a história da cidade. Cada objecto conta uma história e nós vamos contar uma sucessão de histórias que no fundo vêm perfazer a história da Guarda», explica.
«São estas três linhas» que João Mendes Rosa prevê implementar naquele que pretende designar de Museu Regional da Guarda.
Regional mas com ambição extra-fronteira. «A Guarda é a porta da Europa de Portugal, é pela Guarda que se entra para Portugal, é da Guarda que se sai para a Europa, é um portal obviamente fundamental para as nossas relações com Espanha, e a Guarda desempenhou ao longo dos anos um papel fundamental dessas relações, por vezes politicamente eram um bocadinho avessas mas as relações transfronteiriças sempre se estabeleceram de forma pessoal», destaca João Mendes Rosa, defendendo o «estabelecimento de parcerias com instituições, sobretudo de Espanha, os museus, as entidades académicas e obviamente também com as entidades políticas a administrativas de um e de outro lado».
Mas tudo isto está dependente do futuro Quarteirão das Artes, plano que Álvaro Amaro reafirma como estratégico e que quer lançar no próximo ano, após debate público «com a sociedade da Guarda». João Mendes Rosa coordena a equipa que irá apresentar o projecto, o que constituiu «um desafio» para o arqueólogo. «O que me parece é que esse vai ser um ponto culminante do próprio museu, se o próprio espaço o vai ser, é um museu mais partilhado, é um museu que vai alterar a paisagem dos guardenses, a paisagem e o próprio quotidiano emotivo das pessoas que aqui vivem», considera. «Faz parte de todo um processo museológico, que vamos agora iniciar, e que implicará a alteração da própria linguagem museográfica do museu em si», conclui o director do Museu Regional da Guarda.
GM

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