Em razão de uma estrela
Falar da Serra da Estrela, das potencialidades e dos desafios que a ela se colocam nos dias de hoje, é abrir a caixa de Pandora.
Ora, não pertencendo a Estrela, exclusivamente, a um dos municípios que nela existem, nem tão pouco à soma de todos os concelhos em que ela se estende e demais instituições que a gerem ou dela vivem, todos se arrogam o direito de dela viver e de a governar como se fosse coisa sua e não de todos!
Ao longo de décadas foi sempre assim, com os municípios a viverem de costas uns para os outros, não sabendo unir esforços para aproveitar a nossa Serra como um todo, nem de a tornar um ponto de atração.
A par disso, nem todas as instituições que a deviam proteger o fazem na realidade, deixando muito a desejar no que poderiam fazer no terreno em prol do desenvolvimento local, sendo por vezes mais um entrave do que uma ajuda às populações que dela e nela, vivem e são os primeiros a desejar a sua proteção.
Recentemente, duas notícias vieram mostrar quão frágil é o equilíbrio entre a defesa do todo que é a Serra e a apetência de cada autarquia, ou de certos políticos, pela luta do poder na região, ou pela necessidade de se fazerem ouvir nos seus círculos eleitorais.
A primeira, diz respeito ao Geopark Estrela e à localização da sua sede em Manteigas, vila que se integra por completo na área geográfica da Serra e que tem no seu território alguns dos geosítios mais importantes que levam a que o Geopark exista.
Políticas e demagogias à parte, sem bairrismo assumido, outro não poderia ser o local para a sede, após a fase de instalação no Politécnico da Guarda.
Assim será bom que a nova sede não seja apenas uma fachada e se torne um local de trabalho e de interação com quem visita a região, numa atitude contrária ao que foi a dispersão e distanciamento dos serviços do parque Natural da Serra da Estrela que apenas conduziram à inércia e abandono do que deveria ser o foco da proteção daquela que lhe dá o nome.
A segunda implica as câmaras que entre si repartem o território da Torre – Manteigas, Covilhã e Seia – e que devem agora entender-se sobre a gestão de uma das Torres que era pertença da Força Aérea.
Uma boa decisão poderá ajudar em muito à reabilitação daquele espaço territorial.
Uma parte dessa decisão seria mostrar o complexo de túneis que atravessa o subsolo e aproveitar a grande bola para algo relacionado com observação astronómica aproveitando a frase que dá origem à Serra: Em razão de uma estrela que sobre ela se vê nascer!