Estatísticas colocam distrito da Guarda entre os menos afectados pelos incêndios até Julho

As estatísticas dos primeiros sete meses do ano colocam o distrito da Guarda entre os menos afectados pelos incêndios florestais. Em finais de Julho era o quarto distrito do país com menos incêndios e com menos área ardida. Os números são também favoráveis quando comparados com os do ano passado, uma vez que por esta altura já tinham sido destruídos pelo fogo mais de 2.600 hectares de mato e floresta.
As últimas estatísticas divulgadas pelo Instituto de Conservação da Natureza sobre os incêndios florestais ainda não incluem as ocorrências registadas desde o início de Agosto, um mês que se tem revelado dramático em vários pontos do país. Esta semana foi publicado o relatório dos primeiros sete meses do ano, cujos resultados até apontava para um Verão mais tranquilo. Chegou a ser defendido que a existência de poucos grandes incêndios se deveria ao facto do Inverno e da Primavera terem sido chuvosos. Uma ideia que de resto viria a ser contestada pelo presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, Jaime Soares. Até Julho, o número de incêndios em Portugal tinha estado sempre abaixo da média verificada entre 2008 e 2015.
Em relação ao distrito da Guarda, o relatório aponta 93 ocorrências nos sete primeiros meses. Este número coloca o distrito entre os menos fustigados pelas chamas. Só os distritos de Portalegre, Évora e Beja é que contabilizavam menos. O número de ocorrências nestes distritos estão bem longe dos valores registados no distrito do Porto, que liderava a lista com 1481 incêndios.
As 93 ocorrências no distrito da Guarda destruíram 296 hectares, um valor muito inferior ao registado nos distritos mais afectados como Porto, Castelo Branco e Braga, onde já tinham ardido mais de mil hectares.
Os valores registados no distrito da Guarda nos primeiros sete meses deste ano são também mais favoráveis quando comparados ao mesmo período do ano passado. Por esta altura já tinham sido consumidos pelas chamas mais de 2.600 hectares de mato e floresta. Era mais do dobro do valor registado em 2014 em igual período. O número de ocorrências também já era superior ao registado este ano, já eram 265. Como refere o relatório, o ano de 2016 apresentava até ao dia 31 de Julho, o terceiro valor mais baixo em número de ocorrências e o quarto valor mais baixo em área ardida, desde 2006.
Agosto dramático
Só que o mês de Agosto veio alterar o cenário registado até Julho. No início desta semana estavam contabilizados mais de 101 mil hectares ardidos. Este valor já ultrapassou a média total dos últimos oito anos, que não atingia os 74 mil por ano. Por isso, quando as contas forem feitas – o próximo relatório terá as ocorrências registadas até 15 de Agosto – a realidade traçada até Julho será bem diferente. Tendo em conta as graves ocorrências das últimas semanas haverá distritos que se irão destacar pela negativa. E ainda que o distrito da Guarda não tenha sido dos mais fustigados, os números relativos à primeira quinzena vão agravar-se. As contas vão incluir os dois incêndios de Manteigas, os de Gouveia e outros de menor dimensão que têm afectado vários concelhos como Celorico da Beira, Pinhel e Fornos de Algodres.
De referir que até ao final de Julho, o distrito da Guarda não estava mencionado na lista das grandes ocorrências, considerados os incêndios com mais de 100 hectares de área ardida.
Na fase mais crítica para a ocorrência de incêndios, entre 1 de Julho a 30 de Setembro, a chamada fase Charlie, o distrito da Guarda tem mobilizado um dispositivo com 604 elementos, 148 equipas e 136 viaturas. Estarão também disponíveis no distrito três helicópteros (dois ligeiros de ataque e um médio) e dois aviões Canadair. Os helicópteros ligeiros de ataque estão instalados na Guarda e em Seia, enquanto o helicóptero de ataque médio ficará no concelho de Mêda. Os dois aviões estão instalados no aeródromo de Seia. Existe ainda uma reserva distrital da Guarda inclui 1.250 bombeiros no quadro activo e 540 veículos.
No dia em que estes meios foram apresentados em Fornos de Algodres, o secretário de Estado da Administração Interna Jorge Gomes assegurou que o dispositivo de combate aos incêndios no distrito da Guarda tudo fará para proteger a Serra da Estrela, as pessoas e os bens. «A Serra da Estrela é um marco muito importante, não só em termos florestais, mas também em termos de turismo. E é evidente que tudo será feito para a proteger, como tudo faremos para proteger o Gerês, como tudo faremos para proteger outras áreas protegidas». «Nós vamos fazer tudo para proteger tudo: pessoas e bens e floresta. Depois, vamo-nos rendendo quando nos devemos render e vamos protegendo aquilo que deve ser mais protegido, que são as pessoas e os bens», acrescentou o secretário de Estado da Administração Interna. Recorde-se que a associação ambiental Quercus manifes-tou-se «preocupada» com os incêndios que lavraram no Parque Natural da Serra da Estrela, na zona de Manteigas nomeadamente junto ao Vale Glaciar do Zêzere, por ter «afectado uma área de cerca de 200 hectares de floresta dominada por pinhal com carvalhos alvarinhos, no limite da Reserva Biogenética do Conselho da Europa».