Este Natal, ofereça empatia


Há uns dias, houve (mais) um surto de COVID-19 num lar, desta vez na nossa cidade. Uma situação angustiante e dramática, dada a idade e fragilidade das pessoas que se encontram nestas instituições. No espaço (numa utilização extensiva da palavra) onde atualmente quase tudo se passa, o Facebook, foram feitos apelos para doação de equipamentos de proteção individual. Fui ler a caixa de comentários. Entre várias demonstrações de preocupação, apoio e solidariedade, surgiram não infrequentemente comentários sarcásticos e depreciativos no conteúdo, ainda que estéreis na forma.
Este microacontecimento é reflexo de um fenómeno muito maior e confortavelmente instalado nas redes sociais: o comentário de gatilho fácil e sem contraditório, para expiação digital de frustrações e gáudio momentâneo de quem escreve.
Não estou, de todo, a defender uma menor participação ou expressão nas redes, físicas ou digitais. Mas podemos, todos, procurar elevar a sua qualidade e utilidade.
Este episódio, que me tocou pessoalmente, levou-me a alguma reflexão. Qual o objetivo de um comentário numa rede social, sobretudo em temas ou assuntos que não se circunscrevem ao círculo de amigos/conhecidos mas à comunidade em que me integro? Espero alguma mudança (idealmente positiva) ao escrever? Ajudarei alguém? Promoverá justiça? Difundirá uma causa com a qual me identifico?… É sequer factual?
Sobre este assunto, parece-me interessante partilhar ainda o conselho de um conceituado professor da minha faculdade, que ouvi numa das primeiras aulas do curso e que ainda hoje guardo, apesar de nem sempre cumprir – antes de dizermos qualquer coisa, devemos contar até dez e dizê-lo apenas se, após esse compasso de espera, continuar a fazer sentido. Poderá ser útil fazer o mesmo antes de carregar no enter.
Legitimamente, pode o leitor perguntar como se relacionam estes parágrafos mal amanhados com a empatia ou o Natal.
Ora, o espírito Natalício, fecundo em bons sentimentos, é um momento particularmente propício a colocarmo-nos no lugar do outro. Compreendendo a sua situação, poderemos mais facilmente debruçarmo-nos (e agirmos!) sobre cada assunto a partir de uma nova perspetiva. No fundo, sermos empáticos. E podemos sê-lo também na esfera digital.
O ano que em breve termina foi muito diferente e incomparavelmente exigente, abanou grande parte do que dávamos por garantido e forçou, pela saúde de todos e pela capacidade de resposta de cada um dos serviços de saúde, ao afastamento físico das pessoas com prejuízo das relações pessoais. Após esta experiência coletiva, assistir à normalização do insulto gratuito, da crítica infundamentada e da insinuação fácil é deixar que o lado menos bom de cada um de nós vença. Por isso, à boleia do Natal e de um novo ano que em breve começa, podemos, no contacto com quem nos cruzarmos – num passeio, mas também numa caixa de comentários – ou na comunidade em que nos inserimos, agir de forma positiva e construtiva – oferecendo empatia – movidos pela tolerância e não recorrendo ao mero comentário sem impacto positivo lançado do conforto do nosso sofá.
E, terminando com uma nota positiva, parece que ser empático é como andar de bicicleta e fica mais fácil à medida que o fazemos1. Vamos pedalar?
1 Hein, G., Engelmann, J., Vollberg, M., & Tobler, P. (2016, January 05). How learning shapes the empathic brain. Retrieved December 07, 2020, from https://doi.org/10.1073/pnas.1514539112