Falta (quase) tudo

Quando conduzo ouço rádio, por vezes emissoras locais, e dão-me notícias de que faltam médicos e estes faltam por todo o lado, Guarda, Bragança, Coimbra, Lisboa, etc. Em muitos lugares há gente que teme pela sua sobrevivência após ver a estatística de Maio último. Uma mãe, perto de mim, disse bem alto que a filha foi exercer a enfermagem para Inglaterra por não conseguir colocação cá. E ninguém parece não ter vontade de explicar porquê. Ninguém quer incomodar quem se aproveita do esquecimento do que fizeram.

Os governantes e os seus opositores diretos esquecem as razões da falta bem sentida de muitos trabalhadores que nos fazem falta, fazendo ver que foi uma maldade de algum deus desconhecido. Fazem-se de novas, mas nenhum entrevistador os confronta com a história recente em que foram protagonistas bem ativos. Os governantes que estão no ativo fazem ver que tudo se resolverá, salvando a face de todos os que construíram esta nossa angústia.

São os dois governantes, o pretérito e o presente, as duas faces da moeda com que comprámos este nosso sufocante mal-estar. E vemos pelos jornais que se vão reunir no mesmo dia em lugares pouco distantes. E ninguém repara que aquilo que agora preocupa os autarcas, uma estapafúrdia delegação de competências com que se quer sugar os escassos dinheiros das Câmaras que agora vão, por exemplo, para o apoio à Cultura Local. Foi o resultado de um jogo combinado entre Rui Rio, que agora desaparece e de um António Costa que aparece e desaparece quando lhe dá jeito, mas que quer conversar com o líder da oposição amiga sobre o novo aeroporto de Lisboa, um berbicacho de que se quer livrar.

Entretanto, antevê-se o colapso do atual aeroporto de Lisboa uma vez que a TAP não quer que o Porto se afirme como origem e destino de voos.

Percorro os campos e acho-os vazios, mas há gente que diz que está tudo melhor. Há quem avise que a produção do vinho, que ocupa os campos ainda cultivados, a grande riqueza nacional, vai ter dificuldades em manter as produções atuais, devido às alterações climáticas. Quase não há produção de cereais por ter havido políticas agrícolas que o impediram. E os ministros, que foram destruindo as bases em que funcionava a nossa agricultura, desapareceram sem deixar rasto. Nem sequer comentam a iminente falta de cereais que ameaça o nosso país e com ele todo o mundo.

Entretanto, uma Ministra que se esqueceu do que fez para destruir a Escola Pública e a Carreira Docente, nem seque admite o seu interventivo passado como legisladora empenhada em amesquinhar os professores, afastando os jovens desta profissão, nem sequer mostra arrependimento. Parece atacada por um esquecimento seletivo. Nem se gaba da requalificação muitas vezes desastrada do nosso Parque Escolar, pois gastou demais para no fim termos coisa pior como Escola.

Mostrando como um mau governante afasta os seus compatriotas para bem longe, assistimos à chegada em massa de muitos jovens brasileiros, que se queixam da vida difícil na sua Pátria, mas a quem só podemos oferecer uma desatinada vida difícil, ocupando os postos de trabalho dos portugueses que emigraram, antevendo nós que logo partirão para os mesmíssimos lugares, aqueles para onde foram antes os nossos compatriotas em fuga contra o desvario dos que nos governam, e nos mandaram emigrar por não nos quererem como problema.

Só nos querem como votantes acríticos na hora da escolha de mais do mesmo.

Chegaremos por fim à conclusão de que nos falta o algo, ou seja, aquilo que nos ordene o raciocínio, e nos permita distinguir a ilusão do real e nos encaminhe para um pensamento seguro, que guie a nossa ação coletiva e individual para aquilo que nos interessa e nos faça lutar pela Educação, Saúde e Agricultura, usando os nossos recursos e a nossa força inteligente.

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