Fecho da Rohde há dez anos agravou efeitos da interioridade em Pinhel
O fecho da fábrica de calçado Rohde, a 30 de Abril de 2006, constituiu uma «desgraça» social e económica para o concelho de Pinhel e agravou os efeitos da interioridade naquele município do distrito da Guarda.
A Rohde – Sociedade de Calçado Luso-Alemã, que funcionou durante mais de 15 anos, justificou o encerramento com a crise internacional, de especial acuidade na Alemanha, país importador da maioria do fabrico da unidade, que provocou um decréscimo substancial das encomendas, tornando necessário o recurso a vários processos de “lay-off” nos anos de 2004 e 2005.
O fecho da unidade fabril lançou no desemprego 372 trabalhadores, a maioria mulheres, e constituiu uma verdadeira «tragédia» para aquele município do Interior do país. António Ruas, que em 2006 desempenhava as funções de presidente da Câmara Municipal de Pinhel, afirma que, no tocante à Rohde, «depois da bonança», surgiu «a tragédia».
Segundo o ex-autarca social-democrata, durante alguns anos o concelho de Pinhel foi detentor «do maior empregador distrital», pois aquela unidade fabril possuía «cerca de 1.000 trabalhadores». Quando, «abruptamente», a empresa «anuncia o despedimento colectivo dos seus operários», foi um «grande choque, uma grande revolta, reuniões e mais reuniões e uma mão cheia de nada. Grandes preocupações, constrangimentos, grandes interrogações. E o que fazer? Sentimo-nos impotentes e destroçados», lembra o ex-autarca em declarações à agência Lusa.
António Ruas refere que muitas famílias do concelho de Pinhel ficaram sem emprego e perderam os postos de trabalho dos quais «dependia a sobrevivência e a educação dos filhos, para além dos compromissos assumidos com a banca». «Ouvimos choros, desespero, revolta, muitas lágrimas» que corriam por rostos «de sofrimento e angústia», diz, acrescentando que, na época, enquanto presidente da autarquia, tentou «minimizar toda esta desgraça», com a ajuda dos técnicos municipais e do Centro de Emprego e Formação Profissional local.
Apesar do trabalho realizado, o ex-presidente da Câmara Municipal reconhece que não foi possível «minimizar as consequências» do encerramento da maior unidade empregadora do seu concelho. O fecho da fábrica de calçado aumentou «drasticamente o desemprego» em Pinhel e diminuiu «drasticamente a população quotidiana em cerca de 15%». Lembra que assistiu a serviços e a comércios que encerraram ou diminuíram «drasticamente o seu volume de vendas» e nas ruas da cidade deixou «de ver o movimento de pessoas» a que estava habituado.
António Ruas também passou a observar «uma cidade dorida» e «um concelho entristecido». «Volvidos estes anos, os pinhelenses conseguiram sarar as feridas e continuam a olhar em frente com a determinação e a vontade de terem um concelho feliz e desenvolvido», assume o ex-autarca.
Em 2011, a Câmara Municipal de Pinhel comprou as antigas instalações da fábrica Rohde, que transformou em Centro Logístico, onde passou a realizar a Feira das Tradições, um evento anual que divulga as potencialidades económicas locais. Em dois pavilhões da antiga unidade fabril de calçado estão actualmente a laborar duas fábricas do mesmo setor, que empregam cerca de 70 pessoas. Segundo o actual presidente da autarquia, Rui Ventura, no mesmo espaço vai instalar-se este ano uma nova fábrica de calçado que irá criar, logo no início da actividade, 100 postos de trabalho.