Filho de emigrantes de Melo cria estátua do Capitão América em Brooklyn
O que é que D. Afonso Henriques tem que ver com o Capitão América?
Dificilmente se encon-trará qualquer tipo de ligação. Foi no entanto a estátua do primeiro rei de Portugal que inspirou Nélson Ribeiro a criar a obra que assinala os 75 anos do herói americano, inaugurada há duas semanas em Brooklyn, Nova Iorque.
O autor, filho de emigrantes naturais de Melo, aldeia do concelho de Gouveia, lamenta não ter estado presente por se encontrar ausente do país mas garantiu ser a primeira coisa que faria quando regressasse aos Estados Unidos. «Eu já tinha estas férias marcadas para vir a Portugal e não pude mudar quando soube a data, mas quando chegar hei-de passar por lá à ida do aeroporto», afirmou o luso-americano.
O que acabou por não acontecer, uma vez que o voo atrasou e a chegada a casa deu-se já bastante tarde, por volta da meia-noite. Mas foi vê-la na passada Sexta-feira, um dia após o seu regresso a solo americano, à hora de almoço. Não conseguiu esperar pelo final do dia de trabalho. «Quando cheguei lá não podia crer que estava a tocar o que começou com o meu desenho. Não conseguia parar de tocar a estátua porque estava-me a custar a crer que era verdade. Senti o mesmo de quando vi a estátua do D. Afonso Henrique pela primeira vez», confessou-nos.
Concebida a partir do projecto gráfico de Nélson Ribeiro, a estátua é toda feita em bronze, pesa uma tonelada, tem 4 metros e apresenta a inscrição “Sou apenas um miúdo de Brooklyn”. «Do meu desenho ao produto final tivemos que mudar umas coisinhas. Disseram-me que era fácil fazer em papel mas depois em bronze não podia ser uma coisa tão detalhada, então houve umas poucas de mudanças», justifica, destacando que «pelo menos 95 por cento do que desenhei está na estátua».
A garantia foi dada numa altura em que ainda não tinha visto o produto final, por se encontrar em Portugal.
Foi no Comic-Con de San Diego, na Califórnia, «onde começam a estrear os filmes novos que vão sair», que a estátua foi apresentada pela primeira vez, em Julho último. «Depois fez certas paragens nos Estados Unidos, em cidades várias, até que chegou a Nova Iorque», mais especificamente a Sunset Park de Brooklyn, a casa definitiva daquele que é um dos super-heróis preferidos de Nélson. Tanto, que quando foi lançado o desafio, o luso-americano, designer gráfico na Marvel desde 2008, ofereceu-se de imediato.
Menos imediato foi o resultado. «Fiz uma série de desenhos. Como sou de Portugal estou habituado com as estátuas enormes e a primeira que desenhei tinha alguns 150 metros de altura, e eles disseram-me que tinha que ser uma coisa mais pequena. Fiz mais outros desenhos até que aprovassem um», conta.
Tendo em conta que o Capitão América «é uma figura da II Guerra Mundial», mesmo sabendo ser «uma figura ficcional», Nélson Ribeiro quis que a estátua «honrasse os nossos soldados, que não lhe faltasse ao respeito». «E também pensei muito em estátuas que diziam alguma coisa a mim mesmo», revela.
É aí que surge o primeiro rei de Portugal. «Eu tinha uma tia que vivia mesmo ao pé do Castelo de São Jorge, em Lisboa, e quando a íamos visitar, era eu miúdo, enquanto os mais velhos tomavam café eu ia para o castelo brincar, porque não se pagava entrada. Passava lá dias e dias a brincar e a estátua do D. Afonso Henriques foi sempre uma coisa que me ficou porque os Estados Unidos não tem reis e é um país muito jovem comparado à história de Portugal, e aquela estátua foi uma coisa que sempre ficou comigo», explica.
«Eu sei que D. Afonso Henriques existiu, foi o nosso primeiro rei, mas parecia quase uma figura mítica para mim e eu quis que as pessoas tivessem o mesmo sentimento quando estivessem em frente à estátua do Capitão América», acrescenta, sublinhando que «ele representa um herói mas também o melhor do que pode ser o ser humano».
Embora nascido em Sleepy Hollow, no estado de Nova Iorque, «uma vila pequena» com uma comunidade portuguesa «bem grande», Nélson Ribeiro afirma responder «sempre» ser «melense» quando o questionam sobre a suas origens. «Eu sinto que estou em casa quando chego a Melo», confessa.
GM