Gravuras do Côa podem entrar para a lista do património mundial em perigo
A comissão portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) defende que a UNESCO abra um proces-so de acompanhamento reactivo para avaliar a situação das gravuras do Côa, classificadas como Património Mundial. A situação actual é consi-derada suficiente para que qualquer pessoa ou organismo requeira a integração do Parque Arqueológico na lista do património mundial em perigo.
Na semana passada discutiu-se na comissão parlamentar de Cultura, na Assembleia da República, a situação do Museu do Côa e do Parque Arqueológico do Vale do Côa e as conclusões não foram muito animadoras. Na discussão, que aconteceu por proposta do PCP com o objectivo de ouvir várias entidades, foram dados vários alertas para o facto da situação actual ser suficiente para que qualquer cidadão ou organismo solicite a integração das gravuras do Côa na lista do património mundial em perigo. «Uma coisa que seria altamente desprestigiante para o Estado português, até tendo em conta como a UNESCO apoiou o projecto», defendeu João Zilhão, arqueológo que liderou a criação do Parque Arqueológico em 1996 e coordenou a candidatura das gravuras a Património Mundial. De acordo com o jornal “Público”, antes do aviso de João Zilhão já a presidente da comissão portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS Portugal), Maria Ramalho, tinha afirmado aos deputados que face a uma «situação a cada dia mais grave» deve ser apresentado um relatório ao Comité do Património Mundial sobre «o estado de conservação do bem», propondo à UNESCO que abra um «processo de acompanhamento reactivo». A dirigente defende que deveria ser o governo português a assumir esta iniciativa, mas ressalvou que pode ser desencadeada por outras entidades.
Na comissão foram ainda ouvidos representantes da Associação de Arqueólogos Portugueses, do Conselho Internacional de Museus e dois trabalhadores da Fundação Côa Parque, que gere o Museu do Côa e o Parque Arqueológico. O jornal “Público” refere que todos foram consensuais em considerar que a instalação de um sistema de videovigilância, anunciado pelo ministro (ver nesta edição), não irá proteger eficazmente o património do Côa. «Só serviria para apanhar os culpados, quando o objectivo é impedir que haja culpados», apontou João Zilhão, citado por aquele diário. O presidente da Associação dos Arqueológos Portugueses, José Morais Arnaud, considerou ser uma solução «dispendiosa, inadequada e contraproducente», defendendo a reposição da guardaria e a criação de um corpo de guardas da própria fundação que poderiam funcionar também como guias.
Os ouvidos na comissão manifestaram ainda preocupação pelo facto de se manter em funções uma administração provisória e de ainda não ter sido nomeado o sucessor do director do Museu e do Parque, António Martinho Baptista, que se aposentou.
A iniciativa do PCP foi desencadeada depois da recente vandalização da rocha 2 da Ribeira de Piscos evidenciar os problemas da falta de vigilância.
O Parque Arqueológico e o Museu são geridos pela Fundação Côa Parque, criada em 2011 e cujos estatutos foram alterados em Abril para passar a incluir, entre os representantes, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. O conselho consultivo da fundação passará a integrar, pela primeira vez, representantes da Associação dos Arqueólogos Portugueses.