Hospital da Guarda deixa desaparecer os registos que comprovavam se o bebé estava vivo quando a mãe chegou à Urgência


Desapareceram os resultados dos exames realizados ao bebé que acabou por morrer às 37 semanas de gestação no hospital da Guarda. Os resultados são cruciais para apurar se o bebé ainda estava vivo quando a mãe de 39 anos deu entrada no serviço de Urgências por volta das 9.30 do dia 16 de Fevereiro e foi observada por um obstetra. A administração da Unidade Local de Saúde das Guarda, da qual faz parte do hospital da Guarda, terá informado o Ministério Público do desaparecimento dos registos que monitorizam a frequência cardíaca fetal e as contrações uterinas. A família da grávida diz que a mulher esteve mais de uma hora e meia à espera que o médico a voltasse a observar, apesar de ter havido um aumento das queixas por parte da grávida.
O caso, que tem causado grande indignação na opinião pública, está a ser investigado pelo Ministério Público e pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde. O director do Departamento da Saúde da Criança e da Mulher, da ULS da Guarda, António Mendes, já pediu a demissão do cargo.
Os primeiros resultados dos exames médico-legais indicam que terá havido um descolamento súbito da placenta, o que terá afectado a bébe. A situação pode configurar um crime por negligência ou de omissão de auxílio. A grávida, que se tinha submetido a tratamentos de fertilidade no centro Hospitalar da Cova da Beira, tinha a cesariana marcada para esta segunda-feira, dia 27.
Quando na manhã do dia 16 de Fevereiro deu entrada nas Urgências estavam dois obstetras de serviço como é habitual naquela unidade hospitalar. De acordo com o comunicado divulgado pelo Conselho de Administração da ULS, a mulher deu entrada «com perdas de sangue pouco significativas, tendo de imediato feito registo RTC às 9:34h». A administração não adianta que sinais terão sido registados neste exame e quanto tempo decorreu até ser realizado o exame seguinte, a ecografia fetal que «confirmou a morte do feto». A administração explicou que ao ter conhecimento da situação «solicitou de imediato esclarecimentos ao director do Departamento de Saúde da Criança e da Mulher e à directora do serviço que elaboraram um relatório preliminar com o apuramento dos factos». Um dos obstetras de serviço nesse dia tem vínculo laboral à ULS da Guarda e o outro está em regime de prestação de serviços.
A ULS da Guarda tem actualmente 12 obstetras, sete têm vinculo efectivo à unidade de saúde e cinco são prestadores de serviço, sendo que um efectua apenas ecografias. Dada a falta de médicos, a ULS da Guarda recorre com frequência a empresas prestadoras de serviço para contratar médicos.
A secção regional do Centro pediu a identificação dos médicos obstetras que estavam de serviço. O presidente Carlos Cortes diz que se se verificar que houve responsabilidade médica o caso será remetido para o conselho disciplinar.