Incêndio na Guarda que matou seis bombeiros há 10 anos levou a reforço na segurança

O equipamento de protecção individual que os bombeiros utilizam no combate aos incêndios florestais conheceu uma mudança radical após a tragédia que ocorreu em Julho de 2006 em Famalicão da Serra, no concelho da Guarda. «Ao nível do equipamento de protecção individual, houve uma mudança radical», disse hoje à agência Lusa Sérgio Cipriano, bombeiro voluntário ligado ao portal bombeiros.pt e ao Projecto Sérgio Rocha, que tem promovido jornadas de análise ao acidente que ocorreu no dia 9 de Julho de 2006 em Famalicão da Serra, durante o combate a um incêndio florestal.
Naquele dia, aconteceu um fenómeno conhecido por “efeito chaminé” que vitimou cinco sapadores chilenos e um bombeiro (Sérgio Rocha) da então Secção Destacada dos Bombeiros Voluntários de Gonçalo (Guarda). Dez anos após a tragédia, Sérgio Cipriano reconhece que «mudou muita coisa» relacionada com o combate às chamas. «No ano de 2006, nem todos os corpos de bombeiros do distrito da Guarda tinham capacetes para combate a incêndios, como era o caso de Famalicão da Serra. Hoje em dia é impensável um bombeiro ir para um incêndio e não levar capacete», exemplificou.
Na actualidade, os voluntários usam equipamentos «que não ardem com tanta facilidade». Enquanto naquela época «se podia combater um incêndio de ‘tshirt’, hoje há uma maior sensibilização para a utilização do equipamento de protecção individual», acrescentou. «Não há o equipamento desejável para toda a gente, mas houve melhorias significativas a este nível», admite.
Por outro lado, Sérgio Cipriano observa que o bombeiro voluntário «tal como leva o capacete leva o “Fire Shelter”», uma tenda abrigo utilizada para protecção das chamas em caso de necessidade. O responsável reconhece que as acções realizadas anualmente em torno do acidente de Famalicão da Serra contribuíram «de alguma forma para a mudança» verificada. «Se o Sérgio Rocha [bombeiro falecido] tivesse capacete e equipamento adequado, não estaria tão exposto a temperaturas elevadas e poderia salvar-se», concluiu.
Mário Santos, segundo comandante dos Bombeiros Voluntários de Famalicão da Serra, de 37 anos, que em 2006 era bombeiro de segunda, disse hoje à Lusa que a tragédia aconteceu de forma «repentina». «Foi uma coisa fora do normal, nunca vi nada como aquilo. O fogo fez o efeito chaminé e apanhou-nos, não estávamos a prever uma situação dessas», lembra o bombeiro que estava no terreno a combater as chamas e ficou ferido na mão direita e nas costas.
Conta que «todos os dias» se lembra do que aconteceu: «Eu estava no local juntamente com o falecido Sérgio Rocha, com o bombeiro Tiago Viegas e a equipa dos sapadores chilenos. Estávamos a subir e o Sérgio fugiu para o lado onde estavam os chilenos e eu e o Tiago fomos para o lado direito».
O acidente será recordado, amanhã, com a realização de umas jornadas que contam com a presença da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e do secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes.
Em 2013 morreram sete bombeiros no país durante o combate às chamas e em resultado de ferimentos sofridos no terreno. A 15 de Agosto morreu um bombeiro de 40 anos no concelho da Covilhã; a 22 de Agosto morreu uma bombeira no combate a um incêndio na Serra do Caramulo; a 27 de Agosto faleceu um dos bombeiros que ficou gravemente ferido no combate ao mesmo incêndio; a 29 de agosto uma bombeira de 21 anos morreu no combate a um incêndio em São Marcos/Muna, junto à Serra do Caramulo.
No dia 3 de Setembro morreu um dos bombeiros feridos gravemente no combate ao incêndio em Tondela. Três dias depois, um bombeiro de 25 anos de Miranda do Douro faleceu por ferimentos contraídos num incêndio naquele concelho e que provocou também a morte de outro operacional de 45 anos.

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