Insolvência ou penhora atinge mais de 25 por cento das farmácias do distrito

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número de farmácias do distrito da Guarda em situação de insolvência ou penhora quase que quadriplicou em três anos. Neste momento «são já 25,4 por cento de farmácias nestas condições», isto é, 15 de um total de 59. Em 2012 eram «6,8 por cento», revela a Associação Nacional das Farmácias (ANF) em nota de imprensa.
O que significa que poderão fechar as portas.
«Este ano é quando a situação provavelmente irá degradar-se mais», alerta Nuno Augusto, director da Delegação do Centro da ANF. Isto porque «até ao momento nada mudou e até os processos de apoio e recuperação das empresas estão a terminar. Portanto, as situações vão clarificar-se, quem conseguiu ou não recuperar, quem já entrou em processo de penhora e não conseguiu negociar dívidas, situações desse género que este ano poderão vir à tona e realmente as farmácias fecharem».
Em 2012, com as alterações do preço do medicamento e das margens, as farmácias «tentaram de uma forma estratégica apoiar-se nos apoios que o próprio Estado dava relativamente à recuperação das empresas. Neste momento verificamos que em muitas situações não foi possível recuperar», já que «a própria evolução das margens não foi de uma forma positiva». «O sector está a passar uma fase muito adversa relativamente à questão de liquidez financeira e isso reflecte-se claramente no incremento destes valores de 2012 para cá», considera. «Como há uma dependência directa da margem versus o preço do medicamento, se o preço baixa a capacidade financeira obtida através dessa liquidez do medicamento também é menor», justifica.
Nuno Augusto garante existir «uma tentativa de estratégia do sector no sentido de as próprias farmácias tentarem renegociar as suas dívidas», no entanto «a situação não é “ad aeternum” [para sempre, eternamente] e como até ao momento ainda nada foi feito pelo governo isto torna-se muito complicado».
Complicado ao ponto das farmácias não conseguirem «suportar os vencimentos e os custos associados aos recursos humanos, o que implica uma redução dos recursos humanos, uma degradação da qualidade até da própria pessoa, porque deixa de ser um farmacêutico e passa a ser um técnico de farmácia». «Também assistimos que nalgumas situações os próprios farmacêuticos aceitaram fazer uma reestruturação de vencimento durante algum tempo para tentar ajudar a empresa a levantar, mas na maioria dos casos foi realmente despedimento», afirma Nuno Augusto.
A ANF «não tem os dados por distrito mas em termos globais tem o número de farmacêuticos que as farmácias empregavam em 2012 e o que empregam hoje e é claramente muito menor».
O director recorda que a AFN, que irá reunir em congresso entre 14 e 16 de Abril, sob o tema “Uma Farmácia para o futuro”, onde esta questão irá ser debatida, sempre «frisou que era necessário mudar algumas políticas, e volto a frisar, o corte que foi feito no sector versus noutras áreas em relação ao programa da troika, portanto são situações que já vêm do passado, foi muito além daquilo que nós tínhamos programado no programa pelo governo». «Neste momento não sei precisar os valores mas houve um corte muito grande. Nós, obviamente, estávamos do lado da necessidade de reduzir e de contribuir para a redução da despesa da saúde, mas de uma forma comedida. O que acontece é que se passou do 80 para o 8, e não houve uma redução gradual, não nos conseguimos adaptar e o processo desmoronou-se totalmente», alega Nuno Augusto.
A nível nacional, são «18,7 por cento as farmácias (549) em situação de insolvência ou de penhora, um crescimento de 127, 8 por cento entre Dezembro de 2012 e Fevereiro de 2016. Neste período, o número de insolvências mais que triplicou, de 61 para 188 farmácias (+208,2 por cento). Já o número farmácias sob penhora duplicou, de 180 para 361 (+100,8 por cento)», concretiza a ANF.
GM