João Casanova: de Sloan-Kettering para a Fundação Champalimaud


Escolhido entre «cerca de 20 candidatos a nível mundial» para um programa de subespecialização em Ginecologia Oncológica Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova Iorque, com duração de dois anos, o médico guardense João Casanova está de regresso a Portugal e a Fundação Champalimaud será o seu próximo desafio profissional. «Sem sombra de dúvida que era a minha primeira opção e acho que era o sítio que faria mais sentido depois de ter estado no Sloan-Kettering», afirma o clínico, especialista em Ginecologia-Obstectrícia, «o primeiro médico português a ser aceite em Ginecologia» naquele que é «o maior e mais antigo Centro Oncológico privado do mundo» e «consistentemente considerado como o melhor hospital de tratamento do cancro nos Estados Unidos da América, e provavelmente no mundo».
«Primeiro pela própria qualidade das pessoas da minha especialidade que já lá estavam, por ser um sítio onde eu também conheci algumas pessoas de outras espe-cialidades, e, acima de tudo, também porque tem uma plataforma robótica do mais recente que há e que era aquela com que eu trabalhava nos Estados Unidos», justifica, destacando que era para ele «fundamental vir para Portugal e continuar a desenvolver a cirurgia robótica, basicamente um dos pontos fortes do meu programa». «A Fundação Champalimaud tinha essas condições todas e era o sítio que fazia sentido», resume.
Quanto à experiência no Sloan-Kettering, João Casanova diz ter sido o que «estava à espera e ainda mais». «Olhando agora para trás, e já a alguma distância, já passaram quase seis meses de eu ter acabado, apercebi-me do treino extraordinário e da sorte que tive aprender com os melhores cirugiões do mundo na minha especialidade e na sub-especialidade que fui fazer. Foram dois anos de muito muito trabalho. Praticamente nos Estados Unidos não há horários de trabalho e o normal é fazer semanas laborais de 90, 100 horas, e foi exigente, física e mentalmente, mas acima de tudo correspondeu e ultrapassou as minhas expectativas porque o volume cirúrgico que eu fui encontrar duvido que haja algum centro no mundo que possa oferecer tantas cirurgias a pessoas que, como eu, estão a aprender e a treinar», justifica.
Clínico defende centralização
do número de cirurgias
O escasso número de cirurgias foi uma das críticas que fez há dois anos, pouco tempo antes da sua partida para o Sloan-Kettering, em entrevista a este semanário, quando questionado sobre a área da Ginecologia Oncológica em Portugal. João Casanova respondeu haver «bastante qualidade», considerou no entanto que nem tudo está bem. «Está demasiado disseminado. Se calhar é necessário haver alguma concentração por que é fundamental que o cirurgião que opera doenças oncológicas, e que opera cancro, tenha muito volume, e muito volume significa que a resposta, o resultado final para o doente, vai ser sempre melhor», defende.
A opinião mantêm-se. «Percebi que de facto além de eles terem um talento natural é óbvio que só são muito bons porque têm um volume extraordinário de casos, e isso sempre foi uma coisa que me causou grande estranheza, isto é, todos os sítios procuram fazer muitas coisas. E às vezes dão a falsa sensação de segurança às pessoas que vivem em cidades como a nossa, como a Guarda, que pensam que têm tudo e mais alguma coisa ao dispôr, mas muitas vezes os cirugiões não fazem o número suficientes de casos para que sejam de facto bons e que saibam lidar com as complicações», afirma. E defende que, «no caso da minha área, ginecologia oncológica, é preciso é caminhar para que haja centralização do número de cirurgias, que os doentes vão todos ao mesmo sítio, para que as pessoas que fazem sejam muito boas».
«Em termos de apren-dizagem, aprendi muita muita cirurgia minimamente invasiva, nomeadamente cirurgia robótica – dentro das mais ou menos 600 cirurgia que eu fiz nestes dois anos metade foram utilizando a plataforma cirurgica robótica. E depois, aquilo que distinguia o meu serviço, e o que o tornava um dos mais conhecidos do mundo, era a cirurgia complexa do cancro do ovário, e eu fiz muita muita cirurgia complexa do cancro do ovário, e apercebi-me que de facto os cirurgiões eram todos excelentes porque faziam muitos muitos casos», conclui João Casanova.
GM