Londongrado
Vem o “The Economist” desde há algum tempo a falar de Londongrado à semelhança de Petrogrado, Estalinegrado e outras cidades da Rússia, sublinhando assim a dependência ou melhor ligação de Londres com a Rússia, já que é aí que os designados oligarcas russos investem fortunas, todas com origem muito “desconhecida”, dando assim opulência a esta cidade, centro do Império Britânico e do mundo anglo-saxónico.
Contudo, Vladimir Putin, diz a mesma “The Economist”, tem como objetivo desnazificar a Ucrânia, tendo em conta factos que todos podemos conhecer.
De facto, após o Maidan, um levante civil ocorrido em Kiev no final de 2013 contra o regime do presidente Yanukovych, que por isso se demitiu, sendo substituído em 25 de Maio de 2014 pelo oligarca Piotr Poroshenko, o vencedor das eleições presidenciais então realizadas. Mas, sabe-se que em 23/09/2021 o Parlamento da Ucrânia aprovou uma lei para travar a influência dos oligarcas na política e na economia. A legislação visa diretamente ucranianos com fortunas acima dos mil milhões de dólares – um grupo restrito de que faz parte o antigo chefe de Estado Petro Poroshenko. Agora com as sanções aplicados aos oligarcas russos as suas propriedades passam a estar sob a custódia do governo britânico, mas isso põe em causa a forma como o capitalismo funciona, pois é do senso comum que quem tem propriedades as deve e pode usar de acordo com os seus objetivos económicos e sociais.
Usando o Google posso tentar descobrir se há mais oligarcas ucranianos e descubro que em 4 de Março de 2022 “Mikhail Watford, de 66 anos, um famoso oligarca nascido na Ucrânia, foi encontrado morto, ontem, em casa, no condado de Surrey, no Reino Unido, revela o The Guardian. As circunstâncias em que tudo ocorreu ainda não foram esclarecidas.” Preocupado, com tudo isto “Em comunicado enviado à agência de notícias Reuters nesta segunda-feira (14), o oligarca russo Andrei Melnichenko chamou os eventos na Ucrânia de “trágicos” e pediu “paz urgente”. Mas Melnichenko é dono das maiores empresas de fertilizantes e carvão da Rússia, sendo um aliado próximo do presidente Vladimir Putin e participou já de reuniões do Kremlin desde o início da invasão á Ucrânia, segundo a União Europeia.”
Tornam-se assim Oligarcas de um e outro lado da fronteira aliados contra a Guerra que nos torna a todos, infelizes e em perigo. Mas, de acordo com a comunicação social dominante há oligarcas bons, os ucranianos e oligarcas maus os russos.
Infelizmente, tudo isto nos afeta no quotidiano e, por isso, quando na passada semana estive no Mercado Municipal vi-o vazio, e com comerciantes muito receosos do seu futuro. Depois, à tarde quando conversei com um amigo que passeava pela Guarda e a conhece bem, testemunhou-me o sentimento generalizado de receio que muitos dos nossos conterrâneos têm perante o futuro, algo que a alta de preços dos combustíveis reforça e agrava.
Na verdade, a destruição da agricultura familiar tradicional veio quebrar a dinâmica da policultura de subsistência, que dava a quase todos nós a certeza da segurança alimentar. Infelizmente, a política agrícola comum, agravada pela má cabeça dos nossos governantes, prejudicou a viabilidade desta agricultura, entregando-nos ao agronegócio que produz muito, destruindo ecossistemas, mas que não é acompanhado por salários e empregos, que permitam à generalidade dos consumidores comprar de acordo com as suas necessidades.
Somos por isso confrontados com o resultado de políticas económicas que diminuíram a qualidade de vida dos cidadãos de todo o mundo, impedindo-nos de ter a segurança pessoal e alimentar a que todos temos direito e ainda à continuidade do progresso social que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia permite.