Marcelo quer Vila Josefina transformada em centro dedicado a Vergílio Ferreira

O presidente da República desafiou a família de Vergílio Ferreira a transformar a Vila Josefina, situada em Melo, no concelho de Gouveia, num centro de cultura dedicado ao escritor. Marcelo Rebelo de Sousa esteve Quarta-feira da semana passada naquela aldeia, onde inaugurou um roteiro literário alusivo a Vergílio Ferreira ao autor de “Manhã Submersa”.
Aproveitando a presença de um representante da família de Vergílio Ferreira, o chefe de Estado manifestou a sua vontade relativamente à casa onde o escritor costumava ficar quando se deslocava à aldeia. «Olho para a Vila Josefina e estou a imaginá-la como um centro de cultura aberta a tantos e tantas que aqui venham para discutir a obra de Vergílio Ferreira», para revisitar a sua vida e recordá-lo, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se confiante de que «a família um dia chegará a um acordo com a Câmara Municipal» e que isso acontecerá no seu mandato.
«Ainda no meu mandato aqui virei, portanto, nos próximos quatro anos e meio, para inaugurar aquele centro de cultura Vergílio Ferreira», sublinhou.
O presidente da República questionou se Melo é importante porque foi a terra onde nasceu Vergílio Ferreira ou se «Vergílio Ferreira acabou por ser o que foi» porque nasceu nesta aldeia.
«Provavelmente as duas são verdadeiras. Vergílio Ferreira deu a Melo uma projecção por aquilo que recordou e por aquilo que imaginou a partir da recordação, mas também é verdade que a força dessa recordação foi tão presente na sua obra e na sua vida que sem essas raízes essa obra e essa vida não teriam sido o que foram», considerou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, «tendo partido muito cedo e depois regressado regularmente» à aldeia, as referências são muitas: «os locais, os gestos, as narrativas, as recordações do que tinha ouvido até aos dez anos ou daquilo que acabou por mais tarde ouvir e reportar a essa infância».
Aludindo ao roteiro inaugurado na passada Quarta-feira, constatou que em cada sítio se pode encontrar «uma frase, duas frases, três frases que têm a ver com aquele local».
«Somos levados a acreditar que mesmo os génios mais génios, muito do que são devem às suas raízes: à terra onde nasceram, à família em que nasceram, ao que receberam e imperceptivelmente que os foi marcando por toda vida», sublinhou.
A inauguração do Roteiro Literário Vergiliano está integrada nas comemorações do centenário do nascimento de Vergílio Ferreira, uma iniciativa do Município de Gouveia que teve início no dia 28 de Janeiro de 2016, e que decorre ao longo do ano, num extenso programa de actividades comemorativas, tais como, exposições, colóquios, roteiros, concertos, tertúlias, peças de teatro, e que encerrarão um ano depois, a 28 de Janeiro de 2017.
Este é composto por dois percursos pedestres: um rural e outro urbano. O Roteiro inicia-se no Chão do Paço de Melo e tem como tema central o universo literário de Vergílio Ferreira, bem como o ambiente rural em que se insere, permitindo também a descoberta de numerosos tesouros paisagísticos, patrimoniais e etnológicos presentes em Melo, a “ Aldeia Eterna”, descreve o Município na sua webpage.
Vergílio Ferreira nasceu em Melo no dia 28 de Janeiro de 1916. É autor de uma obra romanesca «notável, iniciada em 1943 com a obra “O caminho fica longe”, a qual marca a sua convergência no movimento neo-realista». «Por seu lado, o ensaio pode ser lido como a fundamentação das suas opções estéticas no romance. Se os romances são apelidados de romance-ensaio, os ensaios reflectem de forma sistematizada sobre os temas da ficção (a Vida, a Morte, a Arte, o Homem)», escreve a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, da Guarda, na sua página oficial.
Vergílio Ferreira, «que considera o livro “o registo do nosso diálogo com o mundo”, deu-nos, em cada novo romance, mais uma etapa de um diálogo permanente e infindável com o mundo em que vivemos. Este caminho levou-o do Neo-Realismo para o romance de cunho existencial».
Recebeu vários prémios literários ao longo da vida, como o Prémio Camilo Castelo Branco da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1960; o Grande Prémio do Romance e Novel da Associação Portuguesa de Escritores, em 1988; o Prémio Fémina, em 1990; o Prémio Europália, em 1991 e o Prémio Camões, em 1992.