Na Sombra, está a Luz


Na luz intermitente que nos toca, somos metade luz, metade sombra. Luz, que nos mostra e projeta, Sombra, que nos inquieta e revela. Contar a Sombra ao mundo não é sedutor, porém é a aproximação mais fiel da verdade da Alma. Na Sombra, não há ilusões, apenas o abismo onde se confrontam Ser e Existir, numa dicotomia assertiva e pragmática. Na Sombra, não podemos tudo, por vezes, não podemos nada. A impotência devolve-nos a humildade e a terra onde pousamos os pés. Existem mundos fora de nós que nos avassalam e nos tiram as pilhas dos comandos que julgávamos dominar.
Os acontecimentos do mundo sucedem-se sem nos pedirem permissão, sempre assim foi e assim há-de continuar a ser. Pensamos ter a técnica, mas o Universo tem a tática. Infalível. Magistral. Milénios a decifrar sinais e a construir teorias para, num segundo, o Inatingível pôr em dúvida tudo a que o Homem chegou. A tática vence a técnica.
Na Sombra, somos a derrota da técnica, a frustração de não encontrar a tática certeira. Somos as questões em corredores de hospitais, a redenção a um Deus em que nunca acreditámos, somos a dor, a incerteza, o medo e o desamparo. Na Sombra, somos o Homem, a comunhão de toda a Humanidade, o pedido de auxílio de uma mão que nos guie e nos mostre o caminho da Luz. Somos a essência, a feitura de pactos onde os bens materiais se trocam pela salvação, somos a Verdade, a intimidade, o abraço que conforta o silêncio frenético, o Amor no seu estado límpido e cristalino.
Na Sombra, estão os que são para sempre, está o desejo do que queremos para sempre.
Na Sombra, está a Luz.