Onde estão os estadistas?


Imagine o leitor que é o legítimo proprietário de uma empresa bem sucedida, à qual dedicou toda a sua vida e onde investiu muito dinheiro, sacrifício e trabalho. Considere ainda que, chegado o momento da reforma, tem de entregar a gestão da mesma a um qualquer à sua escolha dos actuais candidatos à Presidência da República. Convenhamos que é uma decisão difícil de tomar, senão mesmo impossível, sendo que o melhor, é abdicar mesmo da aposentação e continuar a árdua tarefa.
Dia 24 de Janeiro, Portugal vai escolher o seu mais alto magistrado, uma vez que “O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, o Comandante Supremo das Forças Armadas”. Facilmente daqui se depreende que, as características pessoais, profissionais e humanas exigidas a um candidato para tão distinto cargo, têm de ser muito acima da medianidade e ao mesmo tempo inquestionáveis.
Pelos vistos é um problema mundial. Os Estados Unidos, supostamente o país mais poderoso à face da terra, um exemplo de tolerância, liberdade e democracia para grande parte do mundo e berço de grandes vultos da política e ciências, entre outras áreas, tem também muitas dificuldades em encontrar um candidato à altura do seu prestígio pois, tanto o futuro, como principalmente o actual presidente, nada abonam a favor de verdadeiros modelos de estadistas.
Mas voltando a Portugal e ao rol de escolhas à nossa disposição, não são só os candidatos mas também as próprias instituições do Estado que deixam algo a desejar, pois de outra forma, jamais deixariam passar para os boletins de voto, um candidato que apenas entregou 11 das pelo menos 7500 proposituras obrigatórias para uma candidatura presidencial, o que automaticamente o colocou fora da corrida.
Nesta eleição temos de um lado 6 candidatos, todos eles militantes de partidos políticos, tentando capitalizar o máximo de votos e de reconhecimento público possível para a sua pessoa e força política representada, pois segundo as estatísticas, jamais terão possibilidade de pensar sequer numa segunda volta. Do outro, surge o presidente em exercício, passeando-se calmamente na passadeira de uma vitória certa, tendo como único objectivo atingir a maior percentagem de votação da história da democracia portuguesa, cujo record se fixou em 70,35% com Mário Soares nas presidenciais de 1991. Recordemo-nos que na altura, o PSD deu-lhe o apoio tácito, tal como agora o PS o faz em relação a Marcelo Rebelo de Sousa.
Não será fácil conseguir esse desiderato pois segundo a minha previsão, não deverá conseguir mais de 54 ou 55%. Isto porque, a situação de confinamento que ainda estará em vigor no dia das eleições, prejudicará essencialmente a recandidatura do actual presidente pois, os eleitores têm como certa a sua vitória, havendo assim, menor preocupação em participar na votação.
Deixo-vos o meu vaticínio (entre parenteses os partidos onde cada um está filiado):
Vitorino Silva (RIR) – 1%
João Ferreira (CDU) – 3%
Tiago Mayan Gonçalves (IL) – 4%
Marisa Matias (BE) – 5%
Ana Gomes (PS) – 11%
André Ventura (Chega) – 15%
Marcelo Rebelo de Sousa – 54%
Brancos / Nulos – 7%