Os polémicos projectos de requalificação da Guarda

A requalificação do Parque Municipal da Guarda e do Jardim José de Lemos são dois dos vários projectos do chamado «eixo central» da cidade que estão a provocar alguma polémica, não só pelas alterações previstas mas também pelo facto de não terem ficado disponíveis no site do município para conhecimento de todos os cidadãos. Envolto em quase total segredo está o projecto que incide sobre o Largo da Igreja da Misericórdia, que tem previsto o desparecimento do pequeno jardim e do cruzeiro para dar lugar um anfiteatro, como mostrava uma das imagens apresentadas numa sessão, no passado mês de Junho, em que a autarquia deu a conhecer os projectos de requalificação urbana, elaborados pelo gabinete “Barbosa & Guimarães, Arquitectos”,
As alterações previstas para o Parque Municipal, que levará ao abate de dezenas de árvores (o autarca Álvaro Amaro fala em 23, no debate sobre este tema falou-se em 37 e no projecto a que o TB teve acesso refere 35) para criar uma clareira, é, de longe, aquele que suscita mais controvérsia, tanto que um grupo de cidadãos avançou com uma providência cautelar que travou o início das obras, que estão a cargo da empresa Tomé Saraiva por 254 mil euros (mais IVA).
No debate, organizado pelo grupo de cidadãos que interpôs a providência cautelar, que decorreu na passada semana, o arquitecto Henrique Schreck não poupou críticas ao projecto do Parque Municipal, defendendo que tem de ser travado pela população. Na sua opinião, o parque tem de continuar vedado, não deve ser elevado o terreno e os muros que vão surgir na zona do lago, «um com dois metros de altura e outro com quatro metros de altura», são «altamente agressivos para o Parque». «Altamente agressivo é também o que se pretende fazer na entrada monumental, que ficará com quatro peças de betão com mais de um metro de largura. Uma tem seis metros de altura, outra com oito e outra com dez metros de altura. Isto vai contrastar com as árvores», adiantou. Contesta também a colocação de um pavimento impermeável, «que é prejudicial para as árvores, que precisam de alimento».
O arquitecto defendeu ainda que os projectos que estão previstos deveriam ser dados a conhecer à população, para assim poderem emitir uma opinião. Certo é que, desde que foram aprovados, nenhum deles está disponível no site do município. Como este semanário já tinha divulgado, está previsto que no Jardim José de Lemos sejam derrubadas as barreiras em redor daquele espaço, retirado o mobiliário urbano e substituído o pavimento. No Parque Municipal está previsto o abate de algumas árvores junto do lago para criar uma zona de clareira. Ainda serão derrubadas as barreiras no perímetro e eliminadas as duas portas de entrada.
Para além disto, pouco mais foi dado a conhecer na sessão pública de 20 de Junho. Por isso, o TB publica nesta edição pormenores dos projectos do Parque Municipal e do Jardim José de Lemos (que começou esta semana a ser executado).

 

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Abate de árvores, construção de muros e de pórticos
Como refere a própria memória descritiva do projecto do Parque Municipal, trata-se de um «espaço de referência para a cidade no entanto, por estar de certa forma abandonado, há várias décadas, sem intervenções, necessita de uma reformulação geral». Por isso, acrescenta o documento, «o objectivo de abrir o parque à cidade, reorganizando o seu espaço, permite uma melhoria ao nível dos equipamentos e das suas condições ambientais, fortalecendo a sua importância na estrutura da cidade e funcionando complementarmente como elemento dinamizador da actividade lúdica e do turismo da cidade da Guarda».
De acordo com o projecto, vão ser removidas as estruturas de vedação do parque com a cidade e melhorados os passeios envolventes, «possibilitando uma maior permeabilidade e acesso directo e em qualquer ponto dos passeios para o seu interior».
«Na entrada principal será demolida a estrutura azul e substituída por elementos verticais que se destaquem entre as árvores. Esta alteração resulta da necessidade de marcar a entrada do Parque perante o alinhamento da Avenida Alexandre Herculano, eixo de ligação entre o centro histórico da Guarda e o Parque Municipal», pode ler-se no documento.
Junto à entrada principal, na Rua do Cabeço, é ainda proposto «o enchimento do terreno tendo em vista a diminuição do desnível entre o jardim e o passeio, que se encontra a uma cota superior». «Para o muro existente neste local propõe-se que suba até aos 4 metros de altura», sendo que «a sua dimensão será alterada, alinhando com o alçado do edifício do Auditório e Café». Para além disso, o muro deverá recuar cerca de um metro e meio. Na entrada secundária desaparecerá o portão e a pala amarela e o pavimento será substituído por um de acabamento branco, tal como na entrada principal.
«A necessidade de eliminar algumas [no documento são contabilizadas 35] árvores no espaço central que envolve o lago é um dos pontos fulcrais da proposta, sendo que o ambiente escuro e fechado do parque não possibilita grandes aberturas do espaço», referem os autores do projecto. «A necessidade de deixar entrar a luz e de tornar este um espaço amplo e aberto vai de encontro a um dos pontos chaves desta intervenção, a dinamização de um dos espaços verdes mais importantes da cidade da Guarda», sublinham os arquitectos do gabinete “Barbosa & Guimarães”.
Outras das «preocupações será a arborização do espaço junto à Av. Dr. Afonso Costa de modo a criar uma barreira que impeça a visibilidade e ruído excessivo dos automóveis».
No interior do Parque, «o percurso principal que liga a entrada ao lago será mantido, assim como a peça escultórica que se encontra ao seu lado direito», estando prevista «a sua iluminação através de dois focos de pavimento, complementando a iluminação prevista através de iluminárias que acompanham os percursos».
Junto ao lago central, é proposta a «eliminação de algumas árvores [o caderno de encargos refere 35] para a criação de uma clareira com pavimento em saibro, valorizando a sua envolvente, libertando o espaço para a realização de actividades lúdicas e permitindo a entrada de luz no Parque».
«O muro de pedra junto ao lago será mantido, servindo de separação entre os dois percursos propostos a duas cotas diferentes em torno deste espaço central», refere o documento, no entanto, esse muro «deverá sofrer alterações passando a ter um acabamento branco e prolongar-se até se fundir com o terreno», desaparecendo, assim, «os degraus que actualmente o rematam, passando a existir uma transição natural entre o percurso e a topografia do terreno».
As construções existentes no Parque serão mantidas, excepto as que se encontram junto ao lago, nomeadamente o edifício de apoio à empresa Randstad, bem como os pequenos sanitários, que serão demolidos para possibilitar a criação do espaço central. «Neste local será projectada uma parede que servirá de apoio a futuras actividades», referem os autores do projecto.
Os restantes edifícios deverão sofrer algumas alterações, nomeadamente a pintura do Auditório e Café assim como a casa do guarda. Para além disso, os edifícios pertencentes ao Parque de Campismo e as restantes infraestruturas «poderão sofrer intervenções que reduzam o seu impacto no Parque».
«Uma outra intervenção passa pela requalificação de todo o mobiliário urbano e sinalética do parque de forma a facilitar os fluxos no interior do parque, de modo a organizar e apoiar pedestres, ciclo turistas e a prática do desporto ao ar livre», pode ler-se ainda na memória descritiva.
Por último, de referir que é proposto ainda um diferente tipo de iluminação através de iluminárias que acompanham os percursos em toda a sua extensão.

 

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Corte do bucho e novos bancos no Jardim José de Lemos
A equipa projectista “Barbosa & Guimarães” propõe para o Jardim José de Lemos «uma intervenção muito delicada e de intervenção simplificadora da imagem, enfatizando o traçado geométrico», focando-se na «correção dos canteiros e percursos pedonais que desenham o conjunto, obtendo proporções e alinhamentos que o tempo e a intervenção permanente dos fenómenos naturais vêm desgastando». «Procurando abrir toda a zona ajardinada para a sua envolvente mais imediata, facilitando a sua leitura visual a partir das ruas adjacentes que de alguma forma o compõem», sublinham os autores do projecto.
Propõem, por isso, uma limpeza de «todo o ruído actualmente existente», nomeadamente «todas as as caixas, bancos, tampas, iluminação, papeleiras, outros equipamentos ou mesmo toros de árvores cortados e ainda visíveis um pouco por todo lado».
O desenho dos canteiros dos anos 40 é mantido com o recurso a um lancil metálico e os espaços verdes são tratados de forma a possibilitar uma visibilidade total de fora para dentro, estando prevista a retirada das sebes de buxo que delimitam todo o jardim.
«Os espaços com herbáceas e arbustos bem ao gosto do jardim romântico do início do século não possibilitam o pisoteio e ficam reduzidos a zonas centrais, aos canteiros pequenos inseridos nos eixos principais dos percursos e aos canteiros laterais onde funcionarão o bebedouro e futuramente um quiosque», referem os arquitectos.
O Jardim José de Lemos será todo pavimentado com saibro branco, sendo que «toda a recolha de águas pluviais seja realizada nas laterais, com recurso a uma rede de geodrenos a pouca profundidade».
«O plano não contempla plantação de árvores, já que o espaço apresenta já tanto densidade como variedade. Para abate apenas está indicada uma espécie, um cupressus por estar seco, mas esta espécie é ainda pequena, o que não acarreta grandes trabalhos», lê-se no documento.
Será removido o quiosque que não foi modernizado, bem como o «mobiliário urbano e equipamentos existentes de modo a que seja possivel a sua reutilização futura».

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