Ovelhas e pastores
A pastorícia deixou há muito de ser uma profissão atrativa!
Ser pastor, implica viver os rigores do tempo frio de inverno e da inclemência do calor, que tosta a pele, no verão, deixando marcas no rosto e no corpo daqueles que correm atrás das ovelhas.
Ser pastor obriga também a uma presença constante, já que os animais não conhecem sábados, domingos e feriados, para além de necessitarem de ter aliviados os úberes a cada manhã e tarde.
Conheci e conheço pastores, alguns da minha idade! Agora menos, pois o tempo se foi encarregando de os diminuir!
Da minha idade, por agora, há um deles: o Tó “Querido”, que vive no vale da Castanheira, a caminho do Covão da Ponte, em Manteigas.
Para o encontrar era mais fácil subir a Serra e procurar o tinir dos chocalhos do seu rebanho, do que me cruzar com ele na vila, o que por vezes acontecia, com mais frequência quando, há muitos anos, fui professor dos filhos.
Este fim de semana o meu amigo Tó desceu à vila! Fê-lo para, em conjunto com pouco mais de meia dúzia de outros pastores, abrir a Festa do Pastor que a Autarquia de Manteigas promoveu, no centro da vila, para relembrar o passado, mas também dar a conhecer o presente perspectivando o futuro.
Pela praça da festa houve música, barraquinhas, mas sobretudo o reviver e saborear de alguns aspetos gastronómicos saídos do forno da “Rochã” que desde sempre cozeu o melhor pão de centeio, a melhor bôla de azeite ou de carne e de cujo calor saía (ao longo de toda uma noite de cozedura) o melhor feijão cozido que se serviria ao almoço de domingo.
Para a festa ter sido mais verdadeira faltaram apenas os grandes rebanhos que atravessavam a vila há décadas atrás!
Se há menos pastores, há também necessariamente menos gado.
Por aqui, vivendo atravessado entre o mar, a serra e a cosmopolita Lisboa, penso no meu amigo Tó e nos seus companheiros, quando algum rebanho enorme se atravessa à minha frente ou pasta pachorrentamente nos terrenos circundantes do IC19!
Sim! Há pastores cá por baixo, às portas da capital, mas o barulho da cidade não deixa ouvir os chocalhos que algumas ovelhas carregam ao pescoço.
E de certeza que não há por ali queijo como o nosso, para acompanhar uma fatia daquele pão que sai da “Rochã”.