Projecto Alavanca financiado em pouco mais de 46 mil euros

existência de um «elevado» número de indivíduos com comportamentos aditivos em Seia e Gouveia que ainda não tiveram acesso a tratamento foi um dos factores decisivos na renovação do Projecto Alavanca – eixo de Reinserção Social, na área das dependências naqueles dois concelhos, promovido pela Associação de Beneficência do Sabugueiro (Seia), para o biénio 2016-2018. O financiamento é de «46.200 euros», revela a coordenadora, Marilene Madeira.
«Os pareceres de cada uma das entidades que são no fundo as estruturas que nos orientam e supervisionam, o CRI [Centro de Respostas Integradas] da Guarda e a DICAD [Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências] de Coimbra, vêm nesse sentido, que de facto as necessidades mantêm-se nos concelhos e que não existe nos concelhos nenhuma entidade, nenhuma resposta a este nível, sendo por isso importante a continuidade da intervenção do Projecto Alavanca», justifica aquela responsável.
O não acesso ao tratamento por parte do «elevado» número dos indivíduos com comportamentos aditivos residentes nos concelhos de Seia e Gouveia dá-se por dois principais motivos: falta de motivação e dificuldades económicas.
Mas em caso de recusa de ajuda pouco há a fazer. «Nós podemos motivar muito, podemos encontrar as soluções para os problemas de transporte, de dinheiro, mas é fundamental que esta motivação seja inicial e primeiramente da parte do utente», afirma a coordenadora.
«O que tentamos sempre fazer primeiramente, e o que é sempre muito difícil, é motivá-los para tratamento. A nossa intervenção prende-se essencialmente na conquista da motivação deles para podermos encaminhá-los para tratamento porque não conseguiremos trabalhar o resto do processo se o utente não se encontrar trabalhado e não se encontrar estável na sua dependência», explica.
Só depois, «analisando cada uma das situações», se avança para a fase seguinte.
«Muitas vezes o que fazemos para colmatar as tais dificuldades económicas é disponibilizarmos a nossa carrinha de serviço, muitas vezes acompanharmos o utente à própria consulta para que ele possa ter acesso a este tipo de tratamento e a este tipo de consultas, que de outra forma não iria conseguir», concretiza Marilene Madeira.
No terreno até Maio de 2018
A Associação de Beneficência do Sabugueiro conta com «46.200 euros» para desenvolver o Projecto Alavanca até Maio de 2018. Nos próximos 24 meses, «iremos apostar em acções que privilegiem o acompanhamento próximo e regular, já que temos mesmo que ser nós a deslocar-nos aos domicílios, porque de outra forma os utentes não têm disponibilidade económica e a nossa rede de transportes públicos é muito fraca». Por outro lado, «vamos tentar privilegiar a reinserção laboral deles, porque são concelhos com desemprego e o desemprego para estas pessoas, com comportamentos aditivos e dependências, ainda é mais acentuado», e «desenvolver acções que dizem respeito à desmistificação do estigma social que ainda está muito associado a estes comportamentos», adianta Marilene Madeira.
O que não será tarefa fácil com a escassez de meios humanos. «Estamos no terreno duas psicólogas e duas assistentes sociais, sendo que ninguém está afecto a 100 por cento. Estamos sedeadas em Seia mas temos intervenção também no concelho de Gouveia. A equipa é efectivamente muito pouca porque este trabalho exige muito, quer em termos de terreno quer de gabinete», argumenta a coordenadora.
Questionada sobre a possibilidade de aumentar a equipa, socorrendo-se do financiamento, responde estar fora de questão. «São dinheiros públicos – isto é uma candidatura a um programa, e eles impõem um limite que tem que ser gerido mediante as possibilidades financeiras que existem», justifica.
«Para já não haverá essa possibilidade embora nós façamos sempre a ressalva que é necessário termos pelo menos uma ou duas pessoas a tempo inteiro para assegurar trabalho que não é tão visível, o de gabinete, mas que para nós é fundamental para termos depois os números de sucesso que pretendemos», conclui Marilene Madeira, que faz parte do projecto desde 2009, data em que começou a funcionar.
GM