Quando o todo é maior do que a soma das partes*


A Guarda é um local muito interessante, não só pela sua enorme beleza histórica, cultural, paisagística e humana, mas também, porque politicamente, é pródiga em epifenómenos dignos de um filme de Hitchcock ou da famosa série “The Twilight Zone” (também conhecida em Portugal como “A Quinta Dimensão”). E digo isto porque, em certos casos partidários, a política guardense abandona o pragmatismo que lhe é exigido e abraça uma espécie de esoterismo como motor da actividade, assemelhando-se às comunidades californianas dos anos sessenta do século passado, onde existia um conjunto de pequenas seitas, cada uma liderada por um guru com o seu grupo de seguidores, afirmando com toda a convicção que o seu programa doutrinal era melhor e o mais verdadeiro.
Tal como em muitas outras actividades humanas, no nosso sistema eleitoral, designadamente ao nível dos “partidos de poder”, o efeito de escala é muito importante, pois, do ponto de vista psicológico, conduz à galvanização do eleitorado e ao seu efeito multiplicador sobre os indecisos, acrescentando aos votantes tradicionais, um significativo grupo de eleitores flutuantes, que são determinantes para a vitória de uma determinada força partidária. O mesmo se passa dentro de um partido.
Para que isso se verifique, é imprescindível que a sectarização dê lugar à união, o eu se transforme em nós e a visão conjunta seja a soma dos horizontes individuais, tendo por base a consideração por opiniões/visões diferentes, embora aproximadas e obviamente, o respeito pela hierarquia instituída, pois a história tem consistentemente mostrado que a ordem sempre se sobrepõe à anarquia.
O PS da Guarda, que ocupou durante 37 longos e invernosos anos o governo da nossa autarquia, foi vítima do jogo individual e da sua sobranceria sobre a equipa total, contribuindo para que o “D” de Divisionismo, seja o mesmo que encontrou na Derrota. Todos se recordarão da chacina fraterna socialista ocorrida em 2012 e 2013 e que ainda hoje guarda muitos esqueletos nas suas masmorras.
O PSD deverá olhar para a história e perceber que a facilidade com que esta se poderá repetir no seu seio é directamente proporcional à quantidade de “fogo amigo” disparado. Que a árdua luta de 37 anos e o trabalho de inúmeros militantes e simpatizantes não sejam deitados a perder, única e simplesmente, porque no campo da semântica política, o individual julgava jogar melhor do que o colectivo.
Posto isto, quem já percebeu que é da soma de pequenas conquistas que se fará uma grande vitória, foi o Presidente da Câmara, Carlos Chaves Monteiro, uma vez que, ao contratar o ex-Director do Centro Distrital da Guarda da Segurança Social, Jacinto Dias, mata dois coelhos de uma só cajadada. Por um lado, a nível partidário, conquista e aproxima-se de uma significativa base de apoio concelhio, que muito considera e se revê no futuro Chefe de Divisão dos Recursos Humanos da Câmara da Guarda. Por outro, coloca ao dispor da autarquia, o engenho, saber, experiência e profissionalismo reconhecidos de Jacinto Dias, fazendo desta opção uma inegável mais-valia para a organização interna da edilidade. Os guardenses merecem e o concelho precisa.
Aguardemos serenamente o futuro!
*O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos.