Restauro em igreja de Trancos o revela achados importantes

Ainda não existem certezas absolutas quanto às recentes descobertas na igreja de Santa Maria de Guima-rães, em Trancoso, encontradas no decurso das obras de restauro que estão a decorrer no templo. «Ainda não estamos em fase de dizer precisa-mente a que fase é que se atribuem os vários elementos que apareceram», revela a arqueóloga da Câmara, Maria do Céu Ferreira, adiantando que «algu-mas das coisas nos pareceram logo que são de extrema importân-cia».
A recente descoberta da estrutura original da Igreja de Santa Maria de Guimarães, em Trancoso, é «importante não só do ponto de vista arqueológico mas também artístico e vem no fundo revolucionar algumas ideias que tínhamos». «Nós sabíamos de antemão que esta igreja tinha sido reconstruida em meados do século XVIII, mas também já tínhamos a referência de um documento que falava nas obras da igreja de Santa Maria [de Guimarães] no século XII, em 1171. Havendo a referência documental nunca se sabe até que ponto as coisas ainda permanecem e aquando do acompanhamento da obra, o acompanhamento arqueológico da retirada do reboco, reparámos que parte de certas paredes ainda retratavam umas características medievais que não correspondiam concerteza à parte do século XVIII», revela a arqueóloga da Câmara de Trancoso, Maria do Céu Ferreira.
Isto é, a comprovação. «Em princípio já teríamos essa referência não tínhamos era essa prova que agora, de alguma maneira, está retratada pelos vestígios que apareceram não só desse período ou um pouco até mais tardios, como é o caso de «um baixo relevo que, em princípio, será até de uma fase ainda pré-românica».
De destacar ainda a descoberta de «uns frescos» dos quais «ainda não sabemos a extensão nem a qualidade porque ainda estão a decorrer as obras e falta intervir a parte de conservação e restauro para ver qual é a amplitude». Mas «não há dúvida que é uma mais-valia para a igreja».
No entanto «ainda não estamos em fase de dizer precisamente a que fase é que se atribuem os vários elementos que apareceram», afirma a arqueóloga. «Ainda estamos em fase de trabalho de campo, e contamos com a colaboração de especialistas até em termos de história de arte por causa da gravura, e temos feito algumas visitas ainda em obra para as pessoas verem no seu contexto o aparecimento das coisas, mas esclarecidamente ainda não posso dizer quando é que teremos uma conclusão», salienta Maria do Céu Ferreira. «É a parte do tempo e a parte financeira, que está sempre a condicionar», justifica.
Mas já existem algumas certezas. «Algumas das coisas nos pareceram logo de extrema importância, não por ser mais antigo ou mais antigo o restauro mas pelos próprios elementos», adianta. E concretiza: «À partida temos logo uma características ou ainda paredes medievais do antigo templo e outros elementos que até poderão ser mais tardios, temos paredes cheias de marcas de canteiros ainda de forma original, mas ainda nos apareceu uma gravura em pedra, um baixo relevo, que ainda pode ser anterior, uma pedra reaproveitada ainda do anterior templo».
O que as palavras de Maria do Céu Ferreira «não admira nesta terra porque já tínhamos outros elementos desse período, do século décimo, e até do século nono». «De alguma maneira Trancoso já era um lugar central muito importante nessa altura, portanto não nos admira que até em termos de edifícios religiosos também já tenha havido uma construção cuidada», reforça.
As descobertas recentes na Igreja de Santa Maria de Guimarães, situada dentro das muralhas da cidade, surgiram no decorrer das obras de reabilitação e conservação do templo, cuja configuração actual data de 1784. Os trabalhos, avaliados em cerca de 100 mil euros, 50 por cento dos quais comparticipados pelo Estado, envolvem sobretudo intervenções ao nível do telhado, dos tectos e das paredes interiores e vão prolongar-se para além do prazo estabelecido.
«Era para terminarem este mês mas o Inverno foi rigoroso, o que atrasou determinados trabalhos exteriores. Com estes achados não sei se vai atrasar muito ou não, algum atraso terá, mas não será assim nada por aí além», conclui Maria do Céu Ferreira.
Gabriela Marujo
gabmarujo.terrasdabeira@gmpress.pt