Três meses depois
Há três meses, no pino do verão, a Serra ardia!
A Estrela, serra maior do país no continente europeu, mergulhava numa espiral de fogo, que a consumiria durante mais de uma semana preocupando quem nela e dela vive, quem a protege e ama. Praticamente os mesmos que foram tomados pelo desespero quando nos primeiros focos de incêndio adivinharam o caminho que as chamas podiam percorrer!
Perante o desastre, logo se anunciaram programas e milhões em reuniões grandiosas sentando à mesa, muitos ministros, autarcas e entidades várias que atuam no espaço do Parque Natural.
Três meses depois, a chuva começa a renovar pastos, mas também destruiu caminhos e encostas e mostrou literalmente o seu lado negro ao turvar as águas que descendo do alto tudo arrastaram até ao rio!
Na sabedoria popular, diz-se que “num dia nasce e morre muita gente”, entendendo-se na frase que muita vida se ganha e se perde nesse espaço de tempo!
Extrapolando e pelo que hoje damos conta, nestes três meses, onde cabem tantos dias, muito se perdeu e pouco se ganhou (na realidade remediou será a palavra certa) na luta a travar contra o que as chamas depois de extintas deixaram à mercê da natureza: chão rapado!
No terreno, apesar das boas intenções do governo central, que despejou aqui milhões (8,9), continuam por lançar e executar concursos de empreitadas, que deveriam estar já em conclusão, para limpezas e reconstruções.
Apoio que também tarda a quem se viu, pela sorte madrasta de um deixar arder mato, privado da sua casa de habitação, de alimento para animais ou das alfaias necessárias a uma labuta de subsistência nas pequenas hortas que reconfortam a débil economia familiar.
Isto para não falar da burocratização em torno da reflorestação, urgente, que leva muitos proprietários a deixar cair os braços perante a imensidão do que lhes é exigido!
Mais rápido as chamas levaram tudo, sem requerimento a serviços competentes e sua permissão!
No terreno está o povo, com os autarcas de primeira linha, as Juntas, que por conhecimento próprio fazem o que podem e não podem socorrendo-se do que cada um pode dar para o bem comum.
E quando nos dermos conta, foi-se o outono com as cores belas que sempre pintaram as encostas…
Que até lá a chuva não estrague mais e os homens que mandam sejam céleres…
P.S. – Depois dos bifes da Jonet, só nos faltava agora o uísque do Ventura!
E não me venham com a treta que desde que o mundo é mundo, sempre houve ricos e pobres!